Saiu hoje a revista Focus. No seu interior encontra-se uma reportagem sobre transexualidade. Ou melhor, sobre transexuais. Transexualidade era a ideia inicial, com um caderno sobre a Gisberta, estando prevista para sair na semana em que acabasse o julgamento, ou na terça-feira seguinte.
Tal não aconteceu. E como a Gisberta é assunto "morto", pelo menos para os media, devem ter resolvido, presumo eu, reduzir o que poderia ter sido um bom artigo para uma banal reportagem sobre (algumas) transexuais.
Vai daí, cortaram pelo menos duas entrevistas (uma de outra transexual e uma de um transexual masculino que nem sei se chegou a ser feita) e toca de chamarem as do costume, mais uma ou outra que sejam mais fotogénicas.
Sim, porque aqui em Portugal, para se ser transexual há que ser-se esplendorosa, ter um palminho de cara e/ou ser-se toda siliconada (os t-lovers devem esgotar esta edição da Focus, digo eu).
Sim, porque aqui em Portugal, para se ser transexual há que ser-se esplendorosa, ter um palminho de cara e/ou ser-se toda siliconada (os t-lovers devem esgotar esta edição da Focus, digo eu).
Com entrevistas a Lara Crespo, Queli Marlene Cruz, Patrícia Ribeiro e Samantha Rios, que foi a Miss transexual 2006, depois de se ler toda a reportagem fica a ideia que todas ou já se prostiruíram ou que ainda o fazem. Ou seja, novamente qual a mensagem subliminar que fica? Transexual = Prostituta (parece que agora se chamam trabalhadoras do sexo, mas da primeir forma dá menos trabalho a teclar). E nem sequer o facto de uma delas nunca o ter feito mudou seja o que fôr, pois nem o cuidado tiveram de notar isso. Deplorável, diria mesmo péssimo.
Não tenho nada contra quem o faça, mas se umas fazem notar o caminho que escolheram, quem escolheu outros caminhos tem o direito de que se saiba isso.
Por aqui se vê o lindo trabalho feito supostamente num artigo que iria tentar não focar esse aspecto sobejamente conhecido (os tlovers que o digam).
De resto nada de especial, todas falam o costume, o reporter volta e meia mete as mãos pelos pés e fala de opção sexual, por exemplo, quando eu estive presente e sei em primeira mão que não foi dito isso, mas enfim, já quando saiu a reportagem da Lara no jornal Metro, também escreveram uma deste género. Quanto a isso, nada a fazer, não aprendem mesmo.
Quanto ao tempo que demorou a sair, para este tempo todo tinha a obrigação de ser um trabalho muito mais elaborado e não cair na mesma lamechice em que costumam cair trabalhos deste género.
Só mais uma coisinha: que eu me lembre, quem disse que tinha a certeza que iria fazer a CRS foi precisamente a trans cuja entrevista foi eliminada, provavelmente por não ser tão glamourosa como as outras. É que convenhamos, ficava muito mal, no meio de tantas belezas siliconadas ou não, fotos de uma não top model.
Realmente, quanto não vale um corpinho? Para quê ser-se inteligente, ter-se princípios, personalidade, quando se pode ter uma quantidade de tlovers a darem graxa na mira de uma queca fácil?
Será que as transexuais femininas querem assim tanto ser conhecidas pela subliminar ligação à prostituição? Ou por só se preocuparem com corpinhos, relegando para segundo plano quem são intimamente?
Bem, eu sei que não sou assim. O valor de uma pessoa é pelo que ela é, não pelo embrulho onde vem. É assim que eu penso.
Jinhos
Fotos de Pedro Simões
2 Comments:
At 24 agosto, 2006 09:26, Anónimo said…
Concordo plenamente com o teu post. Li a reportagem da Focus e reparei na relevância que deram a questões laterais, como a prostituição, que é uma actividade inerente a homens e a mulheres, independente da sua orientação sexual ou da sua identidade de género. Seria suposto focalizarem-se na transexualidade. Para um leitor não informado, a reportagem não só não foi clara no esclarecimento da questão, como, como dizes, estabeleceu uma ligação à prostituição, de forma desenquadrada. Realmente desiludiu e nem apresentou nenhuma entrevista com transexuais masculinos. Quem informa deveria informar-se melhor antes de publicar para não acabar por desinformar ou malformar. Para mim, isto é mais uma prova do quanto está por fazer neste campo, o que acaba por afectar a garantia pelo respeito e pelo direito a uma vida normal que os transexuais e as suas famílias deveriam ter neste país. Ficou tanta coisa por dizer...
Beijos.
At 28 agosto, 2006 12:08, Anónimo said…
De facto tenho conhecimento que um transexual masculino foi entrevistado e nada surgiu. Uma pena... Concordo que o artigo podia ser melhor e desilude.
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