Transfofa em Blog

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sexta-feira, junho 05, 2015

O poderoso preconceito

Na vida acontecem episódios, muitos episódios. E os demonstrativos do preconceito e transfobia existentes na nossa sociedade não faltam. E digo isto porque mora também um homossexual (gay, korror) neste prédio, com carro, ao qual nunca nada lhe aconteceu e é completamente aceite nos mesmos sítios que frequentamos (mercearia, café, etc.). Mas já vamos às razões que me levam a tecer estas considerações

Desde que limitaram (demasiado) o estacionamento aqui em Almada, tem sido um problema constante encontrar um espaçozinho vago onde deixar o carrito.

Tanto que até se evitam deslocações para não se perder tão precioso espaçozito. Evidentemente que com condicionantes: com o preço dos transportes, fica-se confinada a não se ir a lado nenhum. Coisas às quais o facto de, quando se iniciou o estacionamento pago, me ter dirigido à câmara (para arranjar um dístico de moradora) e ter inquirido se tinham feito um estudo prévio de quantos moradores teriam quantas viaturas (o que teria toda a lógica, pensava eu) ter havido um espanto geral perante tão absurda ideia, não deverá ser alheio. Ahh, grandes engenheiros existem por essas câmaras fora.

Na busca incessante de um lugar, encontrámos há uns anos um espaço baldio onde muita gente ia estacionar. Vai daí, pimba, começámos a lá ir deixar o carrito. Meses depois uma surpresa: o carrito tinha as portas da frente abalroadas. Estava lá, pelo menos. Ou assim pensei na altura.

Fazer queixa na polícia parecia-me inútil, portanto lá fomos com ele à garagem onde costumo fazer a revisão pré-inspeção, e o dono lá me deu um jeito nas portas. Sem conhecer na altura outra hipótese de estacionamento, lá continuámos a deixar o carro no mesmo espaço baldio.

Durante meses nada aconteceu, até que um belo dia, o mesmo: a porta do lado do condutor abalroada. Desta vez fomos mesmo à polícia, onde ficou de um dia para o outro para perícias legais (pózinhos de impressões digitais e não sei se mais alguma coisa foi feita) e no dia seguinte oficina outra vez. Desta vez a pagantes, claro. O que para quem se encontra numa situação de desemprego de longa duração, não deixa de ser problemático.

Depois foi esperar o resultado das diligências policiais, que não se fizeram esperar. Poucos meses depois uma carta a informar que o processo iria ser arquivado. Neste tempo, sem outra solução à vista, o carrito continuou a ser estacionado no tal terreno.

Passados mais uns meses, outra vez a porta arrombada. Ficou claro que a intenção não era nem nunca tinha sido o roubo (do carro ou de algo no interior) mas sim, que alguém (ou plural) não devia gostar que travecas estacionassem naquele terreno e vai daí, volta e meia, lembrava(m)-se de ir vandalizar o carrito. Não me enganei sobre a inutilidade da queixa policial.

Três vezes já chegava e perante a manifesta falta de vontade policial em resolver a situação (bem explicita na altura em que fui fazer a queixa) não tive outra solução senão procurar outro local onde o passar a deixar.

E lá encontrei.

Desde há uns tempos, e por causa de uma cadelinha minúscula (como é da moda) a Lara começou a meter conversa com uma reformada (viúva, penso eu, pois anda sempre sózinha com a cadelita) que desde o início sempre nos tratou correctamente (no feminino quero eu dizer).

Conforme os dias passaram, cada vez mais gente nos via a falar, desde vizinhos até aos empregados da mercearia e café onde costumamos ir.

Não tardou o falatório, certamente. Ontem à tarde cruzámo-nos com a dita senhora que nos agraciou com um “estão bons? ou boas, não è?”

Pois é, o poderoso preconceito transfóbico está bem e recomenda-se.