Socialismo 2012: rescaldo do debate
04h30: Alvorada
04h45-05h50: Preparação
05h50-06h00: Cigarrinho da ordem
06h00-06h30: Partida para estação e estacionamento
06h30-07h00: Procurar carruagem e último cigarrinho
07h00-09h00: Viagem até Aveiro
09h00-10h00: Aveiro - Sta Maria da Feira de carro, cafézinho no fim
10h00-12h00: Rever conhecidos e ansiedade a aumentar
12h00-13h15: Debate
Não considero que funcione bem no tipo de “perguntar ou dizer tudo de uma vez” e depois a mesa responde a tudo. Eu funciono melhor “ao momento”. Ou seja, na altura em que algo é dito, tenho resposta ou comentário imediato. Se espero que algo mais seja dito, o que poderia ter comentado é “apagado” e novo comentário aparece. Mas pronto.
Um facto curioso: durante o debate houve uma intervenção de uma pessoa com raízes iranianas que defendeu a política do Irão sobre as cirurgias. O curioso disto é que essa pessoa ignorava a posição iraniana de forçar os homossexuais a: ou submetem-se a cirurgias de correcção de sexo ou serem enforcados. Neste contexto, as pessoas transexuais vão um bocado a reboque destas cirurgias feitas, não pela identidade de género como devia ser, mas pela orientação sexual. E as pessoas transexuais com orientação homossexual, ou emigram, ou não assumem a sua verdadeira identidade de género ou são enforcadas.
Do debate propriamente dito ficou o desalento da continuação de um NIM por parte de certos sectores da comunidade trans.
O debate era sobre a despatologização trans mas esses sectores preferiram falar sobre o CID, o DSM e os Standards of Care da WPATH. Todos estes, o CID da Organização Mundial de Saúde, O DSM da Associação Americana de Psiquiatria e mesmo os Standards of Care da Associação Profissional Mundial de Saúde Transgénero, todos sem excepção catalogam a transexualidade como doença mental. Deve ter sido para mostrar que sabia os nomes, quem não sabe muito sobre transexualidade não deixa de ficar impressionado com estas demonstrações culturais, dá sempre uma impressão de know how. Mas se queria demonstrar sabedoria, devia era ter falado do manifesto da campanha STOP Trans Pathologization 2012, afinal era de despatologização que se falava e não de patologização.
A APA na sua mais recente proposta de revisão do DSM, propõe que a transexualidade deixe de ser considerada como transtorno para passar a ser uma disforia. Coitados que nem sequer sabem que em Portugal a transexualidade já era considerada como disforia há anos, e não foi por isso que acabaram os abusos nem o estigma da doença mental. Curiosamente, vai--se a um dicionário online e nota-se que transtorno e disforia são sinónimos. Portanto nada de novo a oeste.
A representante da ILGA Portugal, Júlia Mendes Pereira, e pelo que me foi dado a ver, mantém assim uma posição dúbia: ao mesmo tempo que defende uma lei despatologizante similar à Argentina para Portugal, vem com o fantasma dos arrependidos, tão querido dos psis para justificarem a continuação da psiquiatrização (e patologização) da transexualidade. Posição essa.que tem sido a postura da ILGA Portugal.
Como curiosidade, um dos argumentos utilizados quando a mesma ILGA Portugal traiçoeiramente apunhalou a comunidade transexual pelas costas quando da inclusão da orientação sexual e identidade de género na constituição como categorias protegidas constitucionalmente (a proposta original contemplava ambas, orientação sexual E identidade de género, mas num acordo com os deputados do PS, que não queriam ouvir falar em identidade de género por ser coisa nunca vista lá pelas bandas da Assembleia, que aceitavam incluir a orientação sexual na constituição se se abandonasse a identidade de género, o que provocou protestos dos elementos t presentes e o cisma entre a comunidade t e a ILGA Portugal) foi o da maioria. Ou seja, como existe uma maioria de homossexuais se comparada com a comunidade trans, não fazia sentido atrasar a inclusão da orientação sexual por causa da minoritária identidade de género.
Este argumento foi defendido por tão ilustres personagens como Miguel Vale de Almeida e o actual presidente da ILGA Portugal Paulo Côrte-Real. Bem, é um argumento, pode-se concordar ou não com ele, mas é válido.
No entanto, quando se trata da comunidade t, os valores levam uma volta de 180 graus. O que não fazia sentido passa a fazer. Ou seja, os arrependidos (pessoas que fazem a transição de um género para outro, cirurgias inclusivé, e que posteriormente se arrependem da sua decisão) representam menos de 1 por cento das pessoas transexuais. Portanto seria de se esperar que a lógica continuasse válida. Mas não. Em nome dessa minoria, a ILGA Portugal não se coíbe de psiquiatrizar e patologizar uma maioria de mais de 99 por cento. Eh pá, mas que grande reviravolta.
Não são alheios os argumentos médicos a esta posição: que se tem de ter a certeza do que a pessoa é, para evitar futuros problemas. O medo de processos em tribunal por avaliações mal feitas não é alheio, penso mesmo que é o principal motivador da tanta demora nos processos existente em Portugal, e para esta posição.
E dói. Dói ver uma pessoa transexual tão dividida que dali só sai um NIM.
Avaliações, uma piada. Não existe diagnóstico para a transexualidade. E da maneira que as coisas estão em Portugal, cada psi avalia cada pessoa de acordo, não com um padrão internacional (que existe) mas pelos seus próprios preconceitos. Assim, presentemente em Portugal, dá-se o curioso caso de uma pessoa poder ser considerada transexual por alguns médicos e psicólogos e não o ser por outros. Uma verdadeira rebaldaria pela qual a Ordem dos Médicos não está isenta de culpas. Com efeito, em vez de ter uma task force para analisar os processos das pessoas trans, devia era ter uma para avaliar por que critérios são as pessoas avaliadas por cada psi.
Júlia, abre os olhos e não alinhes com quem não nos quer bem. A versão que é para nosso bem não convence. Basta lembrar a exigência de divórcio para o diagnóstico da transexualidade. Onde é que isso ajuda ou é para o bem de uma pessoa transexual? Não é, é só um preconceito social. Uma trans que fosse lésbica era, há uns anos, taxada como não transexual. Para o bem dela? Claro que não, mulheres devem gostar de homens (e vice versa).
E um exemplo que foi ela própria a falar, o travestismo fetichista, uma das maiores aberrações jamais orquestradas pelos transfóbicos doutores como Zucker e companhia: uma classificação para meterem todas as pessoas transexuais que não respeitem o que (eles) acham que deve ser uma pessoa transexual.
Isto tudo a condizer com a associação que certos médicos fazem entre as pessoas transexuais e os “Napoleões”, que eu pessoalmente acho um must.
Obviamente que com a despatologização acabam os processos por más avaliações, pois as pessoas deixam de, coercivamente, terem de fazer processos. Só os faz quem sentir necessidade e aí sim, como não há diagnóstico requerido para nada, pode ser que finalmente os psis façam o que dizem: ajudar em vez de julgar.
Os arrependidos, temos pena. Muita gente toma decisões durante a sua vida que podem pôr em risco a sua sobrevivência e/ou bem estar. E não somos uns Woody Allens para passarmos a vida em consultórios a analisar cada espirro que damos ou cada passo que damos. Isso funciona mas é em filmes. Na vida real cada pessoa assume as suas decisões. Foram más? Temos pena. Mas é um direito que nos assiste, errar e aprender com os nossos erros. Roubei ou matei alguém, estou arrependida. A sociedade tem pena mas não é isso que impede que vá presa (salvo se tiver dinheiro para sucessivos recursos até o crime prescrever, mas isto já é outra história). Nem se vai proibir as pessoas de andarem na rua porque alguma em algum lado pode matar alguém. Do mesmo modo não se pode nem deve obrigar todas as pessoas transexuais a suportarem anos de consultas porque existe a possibilidade de uma em algum lugar um dia se ir arrepender.
Portanto seria bom que a ILGA Portugal revesse a sua posição e que a Júlia se decidisse por um claro e inequívoco SIM ou NÃO. O NIM não convence.
O que espero que tenha convencido é a vontade (e necessidde) de se lutar por uma lei de identidade de género igual ou semelhante à Argentina.
13h15h-14h30: Almoço
14h30-16h00: Descontração
16h00-17h20: Regresso de carro a Aveiro, colunas de denso fumo negro no horizonte
17h20-19h30: Regresso a Sta Apolónia com várias colunas de denso fumo negro ao longo do caminho (Foi o último alfa a passar antes da linha ser cortada pelos incêncios)
19h30-22h30: Jantar, lavar louça, etc.
22h30-23h00: Regresso a casa.
04h45-05h50: Preparação
05h50-06h00: Cigarrinho da ordem
06h00-06h30: Partida para estação e estacionamento
06h30-07h00: Procurar carruagem e último cigarrinho
07h00-09h00: Viagem até Aveiro
09h00-10h00: Aveiro - Sta Maria da Feira de carro, cafézinho no fim
10h00-12h00: Rever conhecidos e ansiedade a aumentar
12h00-13h15: Debate
Não considero que funcione bem no tipo de “perguntar ou dizer tudo de uma vez” e depois a mesa responde a tudo. Eu funciono melhor “ao momento”. Ou seja, na altura em que algo é dito, tenho resposta ou comentário imediato. Se espero que algo mais seja dito, o que poderia ter comentado é “apagado” e novo comentário aparece. Mas pronto.
Um facto curioso: durante o debate houve uma intervenção de uma pessoa com raízes iranianas que defendeu a política do Irão sobre as cirurgias. O curioso disto é que essa pessoa ignorava a posição iraniana de forçar os homossexuais a: ou submetem-se a cirurgias de correcção de sexo ou serem enforcados. Neste contexto, as pessoas transexuais vão um bocado a reboque destas cirurgias feitas, não pela identidade de género como devia ser, mas pela orientação sexual. E as pessoas transexuais com orientação homossexual, ou emigram, ou não assumem a sua verdadeira identidade de género ou são enforcadas.
Do debate propriamente dito ficou o desalento da continuação de um NIM por parte de certos sectores da comunidade trans.
O debate era sobre a despatologização trans mas esses sectores preferiram falar sobre o CID, o DSM e os Standards of Care da WPATH. Todos estes, o CID da Organização Mundial de Saúde, O DSM da Associação Americana de Psiquiatria e mesmo os Standards of Care da Associação Profissional Mundial de Saúde Transgénero, todos sem excepção catalogam a transexualidade como doença mental. Deve ter sido para mostrar que sabia os nomes, quem não sabe muito sobre transexualidade não deixa de ficar impressionado com estas demonstrações culturais, dá sempre uma impressão de know how. Mas se queria demonstrar sabedoria, devia era ter falado do manifesto da campanha STOP Trans Pathologization 2012, afinal era de despatologização que se falava e não de patologização.
A APA na sua mais recente proposta de revisão do DSM, propõe que a transexualidade deixe de ser considerada como transtorno para passar a ser uma disforia. Coitados que nem sequer sabem que em Portugal a transexualidade já era considerada como disforia há anos, e não foi por isso que acabaram os abusos nem o estigma da doença mental. Curiosamente, vai--se a um dicionário online e nota-se que transtorno e disforia são sinónimos. Portanto nada de novo a oeste.
A representante da ILGA Portugal, Júlia Mendes Pereira, e pelo que me foi dado a ver, mantém assim uma posição dúbia: ao mesmo tempo que defende uma lei despatologizante similar à Argentina para Portugal, vem com o fantasma dos arrependidos, tão querido dos psis para justificarem a continuação da psiquiatrização (e patologização) da transexualidade. Posição essa.que tem sido a postura da ILGA Portugal.
Como curiosidade, um dos argumentos utilizados quando a mesma ILGA Portugal traiçoeiramente apunhalou a comunidade transexual pelas costas quando da inclusão da orientação sexual e identidade de género na constituição como categorias protegidas constitucionalmente (a proposta original contemplava ambas, orientação sexual E identidade de género, mas num acordo com os deputados do PS, que não queriam ouvir falar em identidade de género por ser coisa nunca vista lá pelas bandas da Assembleia, que aceitavam incluir a orientação sexual na constituição se se abandonasse a identidade de género, o que provocou protestos dos elementos t presentes e o cisma entre a comunidade t e a ILGA Portugal) foi o da maioria. Ou seja, como existe uma maioria de homossexuais se comparada com a comunidade trans, não fazia sentido atrasar a inclusão da orientação sexual por causa da minoritária identidade de género.
Este argumento foi defendido por tão ilustres personagens como Miguel Vale de Almeida e o actual presidente da ILGA Portugal Paulo Côrte-Real. Bem, é um argumento, pode-se concordar ou não com ele, mas é válido.
No entanto, quando se trata da comunidade t, os valores levam uma volta de 180 graus. O que não fazia sentido passa a fazer. Ou seja, os arrependidos (pessoas que fazem a transição de um género para outro, cirurgias inclusivé, e que posteriormente se arrependem da sua decisão) representam menos de 1 por cento das pessoas transexuais. Portanto seria de se esperar que a lógica continuasse válida. Mas não. Em nome dessa minoria, a ILGA Portugal não se coíbe de psiquiatrizar e patologizar uma maioria de mais de 99 por cento. Eh pá, mas que grande reviravolta.
Não são alheios os argumentos médicos a esta posição: que se tem de ter a certeza do que a pessoa é, para evitar futuros problemas. O medo de processos em tribunal por avaliações mal feitas não é alheio, penso mesmo que é o principal motivador da tanta demora nos processos existente em Portugal, e para esta posição.
E dói. Dói ver uma pessoa transexual tão dividida que dali só sai um NIM.
Avaliações, uma piada. Não existe diagnóstico para a transexualidade. E da maneira que as coisas estão em Portugal, cada psi avalia cada pessoa de acordo, não com um padrão internacional (que existe) mas pelos seus próprios preconceitos. Assim, presentemente em Portugal, dá-se o curioso caso de uma pessoa poder ser considerada transexual por alguns médicos e psicólogos e não o ser por outros. Uma verdadeira rebaldaria pela qual a Ordem dos Médicos não está isenta de culpas. Com efeito, em vez de ter uma task force para analisar os processos das pessoas trans, devia era ter uma para avaliar por que critérios são as pessoas avaliadas por cada psi.
Júlia, abre os olhos e não alinhes com quem não nos quer bem. A versão que é para nosso bem não convence. Basta lembrar a exigência de divórcio para o diagnóstico da transexualidade. Onde é que isso ajuda ou é para o bem de uma pessoa transexual? Não é, é só um preconceito social. Uma trans que fosse lésbica era, há uns anos, taxada como não transexual. Para o bem dela? Claro que não, mulheres devem gostar de homens (e vice versa).
E um exemplo que foi ela própria a falar, o travestismo fetichista, uma das maiores aberrações jamais orquestradas pelos transfóbicos doutores como Zucker e companhia: uma classificação para meterem todas as pessoas transexuais que não respeitem o que (eles) acham que deve ser uma pessoa transexual.
Isto tudo a condizer com a associação que certos médicos fazem entre as pessoas transexuais e os “Napoleões”, que eu pessoalmente acho um must.
Obviamente que com a despatologização acabam os processos por más avaliações, pois as pessoas deixam de, coercivamente, terem de fazer processos. Só os faz quem sentir necessidade e aí sim, como não há diagnóstico requerido para nada, pode ser que finalmente os psis façam o que dizem: ajudar em vez de julgar.
Os arrependidos, temos pena. Muita gente toma decisões durante a sua vida que podem pôr em risco a sua sobrevivência e/ou bem estar. E não somos uns Woody Allens para passarmos a vida em consultórios a analisar cada espirro que damos ou cada passo que damos. Isso funciona mas é em filmes. Na vida real cada pessoa assume as suas decisões. Foram más? Temos pena. Mas é um direito que nos assiste, errar e aprender com os nossos erros. Roubei ou matei alguém, estou arrependida. A sociedade tem pena mas não é isso que impede que vá presa (salvo se tiver dinheiro para sucessivos recursos até o crime prescrever, mas isto já é outra história). Nem se vai proibir as pessoas de andarem na rua porque alguma em algum lado pode matar alguém. Do mesmo modo não se pode nem deve obrigar todas as pessoas transexuais a suportarem anos de consultas porque existe a possibilidade de uma em algum lugar um dia se ir arrepender.
Portanto seria bom que a ILGA Portugal revesse a sua posição e que a Júlia se decidisse por um claro e inequívoco SIM ou NÃO. O NIM não convence.
O que espero que tenha convencido é a vontade (e necessidde) de se lutar por uma lei de identidade de género igual ou semelhante à Argentina.
13h15h-14h30: Almoço
14h30-16h00: Descontração
16h00-17h20: Regresso de carro a Aveiro, colunas de denso fumo negro no horizonte
17h20-19h30: Regresso a Sta Apolónia com várias colunas de denso fumo negro ao longo do caminho (Foi o último alfa a passar antes da linha ser cortada pelos incêncios)
19h30-22h30: Jantar, lavar louça, etc.
22h30-23h00: Regresso a casa.
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