Noite de sexta para sábado, por volta das três da manhã. Noite mais agradável, anunciando o final do Inverno e a chegada da Primavera. Rolávamos a 80 pela autoestrada em direcção à Ponte 25 de Abril (ex Ponte Salazar).

Entradas na Ponte, variados carros nos ultrapassavam, as usual. Mais à frente, lá para o meio da ponte, uma viatura parava, obrigando os que iam atrás a umas paragens mais bruscas e a umas mudanças de via mais abruptas.

Começámos a abrandar, just in case. Conforme nos íamos aproximando, observámos melhor o carro parado, com todas as luzes acesas. O primeiro pensamento foi logo que o condutor se teria despistado por uma das bebedeiras tão comuns aos fins de semana.

Já próximas, observamos de repente a porta do lado do passageiro abrir-se de rompante e uma jovem rapariga a sair decididamente da viatura. Sem sequer olhar, atravessa-se à frente do nosso carro, dirigindo-se para o bordo da ponte. Como já íamos devagar, foi só uma questão de abrandar mais para não a atropelarmos. Conforme passamos por ela, foi galgando as barras de protecção da ponte. Sem um momento de dúvida, decidida.

Depois de passarmos por ela, já pendurada do lado de fora da ponte, fui controlando pelo retrovisor. Levantando os dois braços acima da cabeça, deixei de a ver conforme o seu corpo caía.

Do carro ainda parado a meio da via, ninguém saíu do lado do condutor. Nenhum movimento. A Lara imediatamente ligou para o 112. Primeiro atendeu um senhor que depois de informado do sucedido, passou imediatamente a ligação para outro homem, que se apressou a dizer que ia imediatamente accionar todos os meios de salvamento.

Com tudo isto, nem nos lembrámos de parar (e ainda bem, pois seria ainda mais perigoso), continuando sempre em frente, a uma velocidade bastante moderada. Também com o insólito da situação, não me espanta nada.

E foi tudo. Não lemos nada nos jornais, não ouvimos nada na rádio nem na televisão.

Tudo numa noite de sexta para sábado, por volta das três da manhã...