Há bem pouco tempo saiu uma notícia no Correio da Manhã sobre um travesti de nome Felisbela que esfaqueou o seu companheiro (ou alguém com quem privava eventualmente). Foi julgado e condenado a 16 anos.
Comecei por estranhar o nome, Felisbela. De um travesti espera-se um nome mais, digamos sonante, qualquer coisa como Suelly Cadilac, Tania Skin e coisa e tal, enfim, nomes nada parecidos com Felisbela. O que me leva a suspeitar que não se trate efectivamente de um travesti. Mas pronto, não conheço a pessoa em causa portanto aceito, embora com reticências.
Conforme lia a notícia, fiquei a saber que não foi agressão pura e simples, mas também meio auto-defesa, pois o companheiro, de acordo com uma das notícias, ou defendeu-se, ou iniciou as hostildades, não fiquei com uma ideia clara. E espantou-me que a argumentação fosse a de que, ao contrário do que se passou no caso de Gisberta, não foi a faca que matou mas sim a Felisbela.
Convenhamos, Gisberta foi torturada durante três dias sem dó nem piedade por um grupo de mais de dez, não tinha saúde, era seropositiva, sem abrigo, toxico-dependente, quase sem hipóteses de defesa e isso não coibiu o procurador do minisério público de classificar estes actos como “uma brincadeira que correu mal”. Uma brincadeira de três dias.
Neste caso tratou-se de uma pessoa contra outra que não se encontrava doente, e no entanto estranhamente não foi classificado como “arrufo de namorados que deu para o torto”. Neste caso foi uma pessoa T a agressora, logo foi um crime. No caso de Gisberta foi uma pessoa T a vítima, logo só podia ser brincadeira. Obviamente. Claro está. Discriminação? Nããão, nada disso, credo. A justiça é cega, surda e muda, daí a lógica de quando o agressor é T é crime, quando a vítima é T é brincadeira.
É como com as agressões de que ultimamente tanto se tem falado, o caso das duas raparigas que agrediram outra filmado por telemóvel e que levou quem filmou a ser detido preventivamente. Um caso em tudo semelhante a outro ocorrido nos EUA em que uma jovem T também foi agredida por outras duas. O vídeo também foi retirado, mas já fora de tempo, pois a sua divulgação já tinha sido iniciada.
Pois bem, foi graças a estes vídeos que estas situações vieram a lume. Não tenho dúvidas nenhumas que, sem os vídeos, estes casos teriam passado em claro. E foi graças aos vídeos que foram denunciados. Daí o estranhar a prisão do autor da gravação portuguesa. Parece que os nossos juízes não querem que estes casos venham a público. Compreende-se, quando se pensa na quantidade de processos que têm de tratar e quando se pensa no tempo que se perde em cada um deles. Se não houver vídeos a denunciar, não se dá pela coisa e é menos uma chatice. É justo. Afinal casos como estes sempre existiram e os jovens resolviam-nos entre eles.
Dantes nem tinham nome, agora tem: bullying, um nome importado para uma realidade internacional de todas as gerações. Porque sempre haverá quem seja mais forte ou tenha um grupo e que abuse de quem é mais fraco ou de quem esteja só.
Outra coisa que me tem feito espécie desde as últimas declarações públicas é a comparação entre as pessoas transexuais e os Napoleões. Há algo que me escapa aqui. Quer dizer, uma pessoa transexual, para ser considerada doente mental (a disforia de género ou transtorno de identidade de género ou o que lhe quiserem chamar está classificada como doença mental) tem de fazer uma série de testes para prova que não sofre de nenhuma doença mental que iniba a sua capacidade de viver em sociedade e de tomar decisões conscientemente.
Será que por meio dessa comparação o Dr. Décio (sim, são dele as declarações) está a querer dizer que para quem diga que é Napoleão também existem testes para comprovar o mesmo? De um ponto de vista de quem acredita na reincarnação fará sentido existirem esses testes, mas não me parece que seja essa a intenção. Ou que, tal como quem diz que é Napoleão encontra-se num estado de ilusão e afastamento da realidade e que com as pessoas transexuais acontece o mesmo? Quer dizer, um homem a dizer que é mulher (ou vice versa) é o mesmo que dizer-se que se é Napoleão?
Se por um lado aceita e diz que somos homens e mulheres que nasceram no corpo errado, por outro está a chamar-nos de malucos. Haja quem entenda.
Finalmente, não posso deixar passar os resultados eleitorais em branco. Afinal lá por sermos transexuais não deixamos de ter as nossas avaliações. E a minha é esta, o pior que podia acontecer em Portugal aconteceu. Temos uma maioria de direita com um presidente de direita.
Tenho por convicção que maiorias levam a ditaduras, mascaradas de democracias mas ditaduras, uma ditadura de uma maioria sobre minorias mas lá por serem maiorias não deixam de governar em regimes ditatoriais. Sim, a oposição pode barafustar mas vê os seus direitos e pretensões eliminados pela maioria.
Um governo dividido ou forçado a alianças vê as medidas que podem prejudicar minorias suavizadas pela força de ter de se formar acordos.
Agora temos um governo de direita e uma presidência de direita. O mote já foi dado por Passos Coelho durante a campanha “Se houver um grupo de cidadãos que queira um novo referendo à lei do aborto, há que estudar o assunto”. Não preciso pensar muito para advinhar outros dois assuntos que poderão ser revistos.
Analisando os resultados vê-se que o PS perdeu votos devido às medidas necessárias para tentar evitar uma crise que veio de fora. Porque, independentemente do governo ter ou não cometido erros, não se pode negar que a crise veio de fora. E não foi de agora.
O PCP mantém-se como sempre, com o voto dos irredutíveis. Apesar de ter ficado claro nos debates que se encontra vazio de soluções. Não foi capaz de enumerar uma medida que fosse.
O PSD ganhou votos pela má memória existente em Portugal dos governos anteriores, já ninguém se lembra. E a troika serve-lhes às mil maravilhas para acabarem com o despedimento por justa causa (também com a justiça que temos...) e transformarem o SNS de tendencialmente gratuito a tendencialmente pago. Quem quer saúde que a pague, ora bolas.
O CDS manteve-se igual a si próprio. Paulo Portas ainda não conseguiu explicar, pelo menos de forma que eu entenda, como é que uma pessoa com um subsídio de, digamos 250 euros por mês (que dá para imensa coisa, diga-se) pode nem sequer procurar trabalho e viver do subsídio. Realmente 250 euros dá para comer, vestir, calçar, pagar as contas (água, luz, gás) e ainda deve sobrar para se ir juntando algum no banco para as férias. Pode ser verdade noutro Portugal, talvez de uma realidade paralela, mas neste não é, garantido.
O BE perdeu imensos votos devido principalmente a:
ter iniciado e alinhado com a direita a derrubar o governo. Era claro para toda a gente que a direita iria ganhar, menos para o Bloco, pelos vistos. E quem é de esquerda não quis dar votos a quem entrega o poder à direita.
ter forçado Portugal a pedir ajuda externa. Estava-se a ver que o Governo estava por um fio a tentar não pedir essa ajuda.
recusar-se a encontrar-se com os representantes da Troika. Ninguém lhes pedia para assinarem o documento, mas pelo menos que fossem lá defender as suas posições e defender quem votou neles, é o mínimo que se pede, não o lavarem as mãos com desculpas esfarrapadas de soberania.
Agora, com soberania ou sem ela, vamos levar com a Troika à mesma e a força de esquerda perdeu-se.
Curioso no meio de tudo isto foi a passagem limpa das agências de rating, que causaram isto tudo e que ninguém, nem partidos, nem governo, nem a presidência, teve a coragem de acusar como os verdadeiros culpados desta crise na parte que nos toca. Não terá sido por acaso que, sem que nada em Portugal o indicasse, começassem a baixar o rating de Portugal a seguir à Grécia e à Irlanda. Para mim está bem claro que houve manipulação nas agências de rating para um ataque ao euro.
Táss bem.
Comecei por estranhar o nome, Felisbela. De um travesti espera-se um nome mais, digamos sonante, qualquer coisa como Suelly Cadilac, Tania Skin e coisa e tal, enfim, nomes nada parecidos com Felisbela. O que me leva a suspeitar que não se trate efectivamente de um travesti. Mas pronto, não conheço a pessoa em causa portanto aceito, embora com reticências.
Conforme lia a notícia, fiquei a saber que não foi agressão pura e simples, mas também meio auto-defesa, pois o companheiro, de acordo com uma das notícias, ou defendeu-se, ou iniciou as hostildades, não fiquei com uma ideia clara. E espantou-me que a argumentação fosse a de que, ao contrário do que se passou no caso de Gisberta, não foi a faca que matou mas sim a Felisbela.
Convenhamos, Gisberta foi torturada durante três dias sem dó nem piedade por um grupo de mais de dez, não tinha saúde, era seropositiva, sem abrigo, toxico-dependente, quase sem hipóteses de defesa e isso não coibiu o procurador do minisério público de classificar estes actos como “uma brincadeira que correu mal”. Uma brincadeira de três dias.
Neste caso tratou-se de uma pessoa contra outra que não se encontrava doente, e no entanto estranhamente não foi classificado como “arrufo de namorados que deu para o torto”. Neste caso foi uma pessoa T a agressora, logo foi um crime. No caso de Gisberta foi uma pessoa T a vítima, logo só podia ser brincadeira. Obviamente. Claro está. Discriminação? Nããão, nada disso, credo. A justiça é cega, surda e muda, daí a lógica de quando o agressor é T é crime, quando a vítima é T é brincadeira.
É como com as agressões de que ultimamente tanto se tem falado, o caso das duas raparigas que agrediram outra filmado por telemóvel e que levou quem filmou a ser detido preventivamente. Um caso em tudo semelhante a outro ocorrido nos EUA em que uma jovem T também foi agredida por outras duas. O vídeo também foi retirado, mas já fora de tempo, pois a sua divulgação já tinha sido iniciada.
Pois bem, foi graças a estes vídeos que estas situações vieram a lume. Não tenho dúvidas nenhumas que, sem os vídeos, estes casos teriam passado em claro. E foi graças aos vídeos que foram denunciados. Daí o estranhar a prisão do autor da gravação portuguesa. Parece que os nossos juízes não querem que estes casos venham a público. Compreende-se, quando se pensa na quantidade de processos que têm de tratar e quando se pensa no tempo que se perde em cada um deles. Se não houver vídeos a denunciar, não se dá pela coisa e é menos uma chatice. É justo. Afinal casos como estes sempre existiram e os jovens resolviam-nos entre eles.
Dantes nem tinham nome, agora tem: bullying, um nome importado para uma realidade internacional de todas as gerações. Porque sempre haverá quem seja mais forte ou tenha um grupo e que abuse de quem é mais fraco ou de quem esteja só.
Outra coisa que me tem feito espécie desde as últimas declarações públicas é a comparação entre as pessoas transexuais e os Napoleões. Há algo que me escapa aqui. Quer dizer, uma pessoa transexual, para ser considerada doente mental (a disforia de género ou transtorno de identidade de género ou o que lhe quiserem chamar está classificada como doença mental) tem de fazer uma série de testes para prova que não sofre de nenhuma doença mental que iniba a sua capacidade de viver em sociedade e de tomar decisões conscientemente.
Será que por meio dessa comparação o Dr. Décio (sim, são dele as declarações) está a querer dizer que para quem diga que é Napoleão também existem testes para comprovar o mesmo? De um ponto de vista de quem acredita na reincarnação fará sentido existirem esses testes, mas não me parece que seja essa a intenção. Ou que, tal como quem diz que é Napoleão encontra-se num estado de ilusão e afastamento da realidade e que com as pessoas transexuais acontece o mesmo? Quer dizer, um homem a dizer que é mulher (ou vice versa) é o mesmo que dizer-se que se é Napoleão?
Se por um lado aceita e diz que somos homens e mulheres que nasceram no corpo errado, por outro está a chamar-nos de malucos. Haja quem entenda.
Finalmente, não posso deixar passar os resultados eleitorais em branco. Afinal lá por sermos transexuais não deixamos de ter as nossas avaliações. E a minha é esta, o pior que podia acontecer em Portugal aconteceu. Temos uma maioria de direita com um presidente de direita.
Tenho por convicção que maiorias levam a ditaduras, mascaradas de democracias mas ditaduras, uma ditadura de uma maioria sobre minorias mas lá por serem maiorias não deixam de governar em regimes ditatoriais. Sim, a oposição pode barafustar mas vê os seus direitos e pretensões eliminados pela maioria.
Um governo dividido ou forçado a alianças vê as medidas que podem prejudicar minorias suavizadas pela força de ter de se formar acordos.
Agora temos um governo de direita e uma presidência de direita. O mote já foi dado por Passos Coelho durante a campanha “Se houver um grupo de cidadãos que queira um novo referendo à lei do aborto, há que estudar o assunto”. Não preciso pensar muito para advinhar outros dois assuntos que poderão ser revistos.
Analisando os resultados vê-se que o PS perdeu votos devido às medidas necessárias para tentar evitar uma crise que veio de fora. Porque, independentemente do governo ter ou não cometido erros, não se pode negar que a crise veio de fora. E não foi de agora.
O PCP mantém-se como sempre, com o voto dos irredutíveis. Apesar de ter ficado claro nos debates que se encontra vazio de soluções. Não foi capaz de enumerar uma medida que fosse.
O PSD ganhou votos pela má memória existente em Portugal dos governos anteriores, já ninguém se lembra. E a troika serve-lhes às mil maravilhas para acabarem com o despedimento por justa causa (também com a justiça que temos...) e transformarem o SNS de tendencialmente gratuito a tendencialmente pago. Quem quer saúde que a pague, ora bolas.
O CDS manteve-se igual a si próprio. Paulo Portas ainda não conseguiu explicar, pelo menos de forma que eu entenda, como é que uma pessoa com um subsídio de, digamos 250 euros por mês (que dá para imensa coisa, diga-se) pode nem sequer procurar trabalho e viver do subsídio. Realmente 250 euros dá para comer, vestir, calçar, pagar as contas (água, luz, gás) e ainda deve sobrar para se ir juntando algum no banco para as férias. Pode ser verdade noutro Portugal, talvez de uma realidade paralela, mas neste não é, garantido.
O BE perdeu imensos votos devido principalmente a:
ter iniciado e alinhado com a direita a derrubar o governo. Era claro para toda a gente que a direita iria ganhar, menos para o Bloco, pelos vistos. E quem é de esquerda não quis dar votos a quem entrega o poder à direita.
ter forçado Portugal a pedir ajuda externa. Estava-se a ver que o Governo estava por um fio a tentar não pedir essa ajuda.
recusar-se a encontrar-se com os representantes da Troika. Ninguém lhes pedia para assinarem o documento, mas pelo menos que fossem lá defender as suas posições e defender quem votou neles, é o mínimo que se pede, não o lavarem as mãos com desculpas esfarrapadas de soberania.
Agora, com soberania ou sem ela, vamos levar com a Troika à mesma e a força de esquerda perdeu-se.
Curioso no meio de tudo isto foi a passagem limpa das agências de rating, que causaram isto tudo e que ninguém, nem partidos, nem governo, nem a presidência, teve a coragem de acusar como os verdadeiros culpados desta crise na parte que nos toca. Não terá sido por acaso que, sem que nada em Portugal o indicasse, começassem a baixar o rating de Portugal a seguir à Grécia e à Irlanda. Para mim está bem claro que houve manipulação nas agências de rating para um ataque ao euro.
Táss bem.
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