Transfofa em Blog

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domingo, agosto 28, 2011

Fim de verão. Ou pelo menos de algo que deveria ter sucedido mas que ficou muito áquem das espectativas. Tal como a situação em Portugal.

Um verão fresco, molhado, com noites desagradáveis e mesmo algumas tempestades. Nada usual.

Em Portugal temos também uma crise inventada, complementada por um governo de direita, com maioria e com a presidência. Nada melhor para cortar em tudo o que puder. E com a desculpa da Troika. Qualquer coisa que façam "ahh, foi a Troika que forçou"

Temos de ver umas coisas: primeiro, serviços públicos como os transportes ou os serviços de saúde não devem ser planeados como o são as empresas privadas: para dar lucro. Esses serviços destinam-se precisamente a servir a população. E como tal, não podem nem devem ser pensados em termos económicos. A ausência de lucro deve ser colmatada com os impostos pagos. Não é, no entanto, o que sucede. O governo parece querer inverter a lógica das coisas. Ou o que deveria ser a lógica.

Constata-se que a visão economicista de um país implica que esse país deixe de ser formado por pessoas, que se transformam em factores de produção. Económicamente pode estar certo, mas um país é feito por pessoas e a economia deve existir para servir as pessoas, não as pessoas existirem para serem subordinadas à economia.

Assim como os impostos pagos devem servir para cobrir gastos dos serviços públicos e não reformas por inteiro de deputados ao fim de oito anos. Nem para pagar pensões vitalicias a quem tenha estado meia dúzia de anos (ou dias) num governo. Ainda por cima quando se pensa que, ao acabarem os mandatos, têm os seus empreguinhos à espera. Ou arranjam logo outros. Não tenho conhecimento de ex-deputados ou ex-membros de governos que estejam desempregados. E afinal não concorrem a esses cargos por patriotismo, por amor ao país? Pelo menos é o que apregoam.

E isto porque tivémos uma esquerda (?) que fez o favor de levar ao colo a direita ao poder e de forçar a vinda de uma Troika para Portugal. Quer dizer, a nível de política Portugal segue a via deste verão e a via económica em que nos encontramos. Estamos com um défice de esquerda. A obrigação da esquerda seria dar tudo por tudo para que não fosse necessária a vinda da Troika nem a tomada do poder pela direita. Em vez disso parece que fizeram gala em fazerem precisamente o oposto.

Alguém tinha alguma dúvida sobre o resultado destas eleições? Como explicar então as iniciativas dos partidos ditos de esquerda e que resultaram nisto? O PCP, sempre tão preocupado com o povo não viu que com a queda do governo PS seria o PSD a ganhar as eleições? Ou anda tão na lua, tão fora da realidade que esperava sinceramente ganhar as eleições? O mesmo se pergunta em relação ao Bloco.

Não sei o que pensar. Por um lado não acredito que a liderança destes partidos tivesse a esperança de ganhar estas eleições. As atitudes tomadas quase fazem pensar que estavam em conluio com a direita. Nenhuma destas alminhas pensou que se o governo caísse então é que vinham as "ajudas externas"? Foi só para fazer cair o PS que armaram tudo isto, não se preocupando com a situação em que deixavam as pessoas em Portugal? Dá até vontade de berrar "Mas o qué qué isto ó meu?"

Partidos de esquerda é suposto pensarem nas pessoas. Em próximas eleições como é que se vai poder acreditar nestes partidos depois de uma destas? Ainda por cima com as mesmas lideranças? Afinal quem tinha razão era o Sócrates? Desde o princípio da crise que era perfeitamente visível que a dita crise era artificial, nada mais sendo que um ataque ao Euro. E agora com estas medidas há que perguntar: mas entrámos para o Euro para estarmos a pagar o mesmo que lá fora e a ganhar um terço do que se ganha lá fora? Entrámos para sermos o quê? Mão de obra barata tipo países do terceiro mundo? Criados dos outros?

Estamos a perder a nossa independência. Basta ver como fomos forçados a acabar com as golden shares governamentais que tão bons frutos deram no caso da Portugal Telecom enquanto a França e a Alemanha, por exemplo, não acabam com as deles. É um faz o que eu digo, não faças o que eu faço. E um governo que nem sequer se bateu por isto, afinal que governo é? Um governo que diz que ainda vai cortar mais do que querem os senhores da Troika mas que não tem a coragem de lhes fazer frente "Calma que estamos a falar do povo". É o que temos.

E nas próximas eleições, que fazer? Em quem votar? Como dar o voto de confiança a partidos que fazem uma destas? Deixar de votar à esquerda para votar PS? Votar em branco, nulo ou simplesmente não votar? A coisa configura-se bastante complicada para quem sempre votou à esquerda. Não falo do PCP pois nunca poderia votar em partidos que apoiam ditaduras como a chinesa ou a cubana e que apoiam as detenções de activistas de direitos humanos. Não, esse tem os seus irredutíveis que mal sairam de uma ditadura já apoiam a entrada noutra.

Falo mais do Bloco onde muitos esquerdistas tinham depositado esperanças e que se sentiram, e sentem atraiçoados. Como voltar a dar o voto ao Bloco? Que nem sequer teve a humildade de assumir que errou limitando-se a dizer que “devia ter ido às reuniões da Troika”. É que o problema não se resume a isso. O problema é que foi o primeiro a provocar a queda do governo e, assim, a abrir as portas ao CDS/PP e ao PSD. Fez o jogo da direita e isso é muito difícil de perdoar. E se o fizeram uma vez, quem diz que não o vão repetir? Pois, a coisa está complicada.

Bem, com estas divagações afastei-me do que queria focar. No jornal SOL saiu um artigo de opinião do seu director, que pelos vistos tem muita dificuldade em acompanhar o evoluir das sociedades. É incapaz de entender que um casamento é entre duas pessoas, para ele o casamento é entre homem e mulher. A mesma coisa que dizer que um casamento é entre dois brancos, por exemplo. Salvo as respectivas distâncias, o preconceito e a discriminação são os mesmos, só mudam os factores.

Faz espécie é como é que uma pessoa manifestamente incapaz de acompanhar o evoluir dos tempos e da sociedade tem um cargo de director de um jornal. Enfim, estamos em Portugal.

Como resultado apareceram logo aqueles que se sentiram muito ofendidos por este senhor pensar assim e vai dai apareceram logo as propostas de queixas aqui e ali.

Um artigo de opinião é isso mesmo: opinião. Vê-se bem que estas pessoas nunca estiveram sob o jugo de uma ditadura em que existia a censura e só se lia o que queriam que se lesse.

Este tópico é muito importante, pois trata da única coisa que restou de bom do 25 de Abril, a liberdade de nos podermos expressar. E a minha posição é a seguinte: posso não concordar com uma única palavra mas defenderei sempre o direito de serem ditas.

Não é querendo impedir que pessoas demonstrem a sua intolerância, a sua estupidez ou os seus preconceitos que se dá a volta à coisa, mas sim respondendo na mesma moeda, usando a mesma liberdade de expressão. Mais, o facto de ficar registada publicamente uma opinião baseada na ignorância e no preconceito só pode fazer que quem a leia se questione sobre as razões de tal opinião. E mais cedo ou mais tarde verá que a pessoa apenas exprimiu o seu ódio por quem é diferente.

Eu até agradeço quando escrevem coisas similares sobre transexualidade, pois dão-me a oportunidade de desconstruir esses discursos além de ficar a saber com o que posso contar vindo desses lados. De outra maneira não saberia e poderia até julgar, por exemplo, tratar-se de uma publicação isenta. É graças a exemplos como estes que, por exemplo, deixei de ver os telejornais da TVI.

O caso seria diferente, por exemplo, se fosse um artigo de opinião a discriminar africanos. A pessoa em causa arriscava-se até a ser logo despedida. Mas lá chegaremos, tal como se chegou lá neste exemplo, ou como se chegou lá com as religiões. Há que dar tempo ao tempo.

Os tempos estão a mudar. A mesma religião que vendia absolvições na idade média a troco de terras e dinheiro, que queimava pessoas através da inquisição, que deu o seu aval às cruzadas numa tentativa de impôr tiranicamente as suas ideologias, que em conluio com a cruz vermelha arranjou documentação falsa a criminosos nazis no fim da 2ª Guerra Mundial ajudando-os a fugir para países da América do Sul, tal como Eichmann e Mengela continua a pretender ter moral para dizer o que é aceitável e o que não é. Bem, lata têm de sobra. E vão perdendo fiéis e vocações.

E é escudados por isto que aparecem comentários anacrónicos em jornais, que por sua vez dão logo azo a tentativas de silenciamento destas vozes. Estas vozes não devem ser silenciadas, mas sim expostas e denunciadas, tal como se faz com propaganda nazi. Lembrem-se das ditaduras chinesa e cubana, por exemplo. Querem viver num país assim, onde quem exprime um pensamento contrário ao regime é perseguido e silenciado? Eu não, prefiro que escrevam a ofender que eu depois retribuo.

Pena tenho eu de, quando foi a luta pela lei de alteração de nome e género, nenhum destes indignados tenha aparecido a dar a cara. Lembro-me, inclusivé, de grupos/associações formadas para a temática gay, o Movimento pela Igualdade, os Médicos pela Escolha, as personalidades públicas de vários sectores da sociedade que deram a cara por tão nobres causas, nomeadamente da parte da cultura, que todos primaram pela ausência quando eram necessários. Bem, mas também a transexualidade não é homossexualidade, não é?

Deve ser por isso que, quando passam a vida a denominarem-nos como doentes mentais, de tal maneira que muitos transexuais com vergonha de o serem adoptam alegremente a doença mental como desculpa para serem quem são. Bem, como dizia, deve ser por isso que nenhuma destas personalidades ou grupos se sentem ofendidos com isso. Depois de terem durante tanto tempo lutado pela retirada da homossexualidade do rol das doenças mentais, a transexualidade passa-lhes ao lado.