Organizado pelo GRIT - Grupo de Reflexão e Intervenção sobre Transexualidade da Associação ILGA Portugal em colaboração com a rede ex aequo - associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e simpatizantes, e incluída no evento de 3 dias, Dias da Memória Trans, deu-se no sábado dia 19 de Novembro uma tertúlia denominada Sim, Somos Pessoas. Estes eventos relacionados com o TDOR, que se comemorava a 20 de Novembro.
E pelas 20 horas lá saímos de casa, eu e a Lara, para nos dirigirmos ao Centro Comunitário, onde se realizou a dita tertúlia, com uma paragem numa bomba de gasolina para meter 20 euritos (que têm de dar para a semana toda) e comprar o fatídico tabaquito.
Pelas 20h e 40 minutos já lá estávamos.
Como seria de esperar, ou não estivéssemos em Portugal, a tertúlia começou atrasada. Fiquei sem ter a certeza se devido a atrasos de oradores da mesa se numa tentativa de esperar que mais gente chegasse, pois a assistência não era muita. Mas também nunca o é.
O leque de oradores era composta da seguinte maneira: o representante usual da rede para estes temas, a representante usual do GRIT (e da API, da ILGA e penso que também pertencerá à rede), uma psicóloga professora no ISCTE, e duas pessoas transexuais (um masculino e uma feminina) com as respectivas mães.
Não vou detalhar pormenorizadamente o decorrer dos testemunhos e opiniões, até porque não tirei apontamentos, portanto vai mesmo de memória.
Começou a falar o representante da rede, que deu a palavra à Júlia (do GRIT, API, etc) que leu os nomes das pessoas que morreram este mês de acordo com os dados emitidos pela TGEU através do projecto Transrespect versus Transphobia. Que ontem já se encontrava desactualizada em mais duas mortes, e uma terceira que soube quando cheguei a casa. Seguiu-se um minuto de silêncio em memória das vítimas.
Depois falou a psicóloga. Não se percebe qual é a fixação que a rede e o GRIT têm pela omnipresença de psis em tudo que se relacione com transexualidade. Será que as comunidades LGB têm um desejo secreto de serem patologizadas? Se calhar foi um erro a saída da orientação sexual das patologias, a julgar pelo afinco com que, invariavelmente, aparecem em todos os eventos relacionados com transexualidade.
Agora num evento em que o mote principal era a transfobia parece-me que essa mania da patologização foi levada a um extremo. Não vi justificação nenhuma para essa presença na mesa.
Teve várias intervenções durante a noite, pois como psicóloga que é teve sempre qualquer coisa a dizer, mas o que me ficou na memória foi a associação da transfobia a outras discriminações como contra as pessoas deficientes, entre outros exemplos que deu. Mas deve-se ter esquecido que, e pegando no exemplo, não tenho conhecimento de nenhum crime de morte perpretado contra uma pessoa deficiente por ser deficiente, enquanto contra as pessoas trans é o que se sabe. Psicologias à parte, não gostei das intervenções, embora numa coisa concorde com o que disse: que a discriminação e violência não vai acabar nunca. Ou pelo menos num muito longo prazo.
Pelos testemunhos dados pelas pessoas transexuais presentes da sua experiência de vida, e se eu fosse uma pessoa que estivesse de fora destes assuntos, depois de ouvir os seus testemunhos teria ficado com a impressão que transfobia é coisa que não existe em Portugal. Os amigos compreendem e aceitam, os colegas idem, os pais idem, professores idem, epah é uma maravilha este Portugal à beira mar plantado.
Num evento supostamente inserido no TDOR, estes depoimentos saíram completamente fora de tom. De tal maneira que algumas pessoas da assistência indagaram esse mesmo facto à mesa. Salvou-se o depoimento (forçado por este reparo) da Júlia, que mencionou o inferno que passou nas escolas e no sítio onde vive. E vivendo eu também nesta margem sul (ou neste deserto, segundo outros) e conhecendo o tipo de gentinha que vive por aqui (e fora de Almada é pior) não me custou nada imaginar situações como as que descreveu.
Convenhamos, os preconceitos são de tal ordem que um suposto apoiante das pessoas transexuais me escrevia o seguinte: (...) por ter conhecido bem uma trans que inicialmente pensei ser mulher e pela qual muito me sentia atraido(...). Portanto não era mulher, só parecia, e no entanto trata-a no feminino, portanto também não a devia considerar homem. Talvez, sei lá, uma marciana? Até supostos apoiantes negam a identidade da pessoa trans. Adorei.
As mães falaram também, e aqui foi mesmo o descalabro, pelo menos da parte de uma delas. As duas afirmações de que me recordo são que, por exemplo, em relação àos wcs, que se uma pessoa souber quem é não terá problemas.
Imediatamente me veio à memória o caso de uma trans, nos EUA, que foi a uma casa de banho feminina, pois tinha perfeita consciência de quem era, e levou uma tal carga de pancada que teve um ataque e ficou caída no chão. Eu própria divulguei o vídeo e acompanhei o caso. Mas provavelmente devido à censura praticada pela AMPLOS e assumida à frente de toda a gente que lá se encontrava pela presidente (para não alarmar demasiado as mães de pessoas trans, foi a desculpa), essa mãe não deve ter dado por esse acontecimento.
E os casos de Gisberta e de Luna vêm lembrar que os costumes de Portugal não são assim tão brandos. Portanto não me espanta nada ver uma situação similar acontecer em Portugal.
A outra, e mais grave, foi a declaração de que o sucedido com Gisberta pode não ter tido a ver com transfobia. Esta foi uma tirada digna de pertencer à qualificação das “bacoradas”. Somente insinuar-se que tenha sido por Gisberta ser sem abrigo ou toxicodependente é tão absurdo e revelador da ignorância que existe, depois de tudo o que se escreveu, depois de tudo que se debateu, sobre este caso. Um caso em que, paralelamente, não existe a mínima dúvida que se tratou de transfobia.
Basta ler-se a declaração de uma destas bestas humanas, o cabecilha, o mais velho, que disse que “odiava gajos com mamas” ou “odiava travestis” a um jornal na época. Só esta frase já diz tudo. Some-se 3 dias de torturas variadas, tentativas de queimar o corpo por presumirem que estava morta, o ter sido jogada a um poço ainda viva e, depois de o constatarem, ter sido deixada para morrer afogada. Penso que isto diz tudo.
Não sei se este ignorância foi determinada com a absurda vontade da AMPLOS de esconder a realidade aos seus elementos. Se o foi é uma razão para que a AMPLOS reveja a sua atitude em relação aos crimes de ódio contra as pessoas trans. E não só por isso. Já soube de muitos casos em que, por se andar a esconder a realidade pessoal, uma pessoa acaba por ser vítima de agressões físicas violentas e que já levaram à morte. Porque, a juntar a um possível ódio, repulsa, nojo, medo ou o que quer que seja que torna uma pessoa transfóbica, encontra-se o sentimento de traição, de uma pessoa ter sido enganada. E a raiva que se sente nessa altura piora em muito a situação.
Do mesmo modo, um qualquer dia, a AMPLOS sujeita-se a que aconteça uma situação desagradável e a ser acusada de, ao esconder certas realidades, facilitar situações que de outro modo, com conhecimento, seriam mais fáceis de evitar.
Em relação à Gisberta, e para finalizar, o facto de ser sem abrigo não pode nem deve ser considerado como motivo, mas sim como uma situação que facilita este tipo de situações.
Em relação a (mais uma) declaração da AMPLOS que iria agradecer formalmente às escolas e professores onde andam os dois testemunhos dados, é uma atitude que, muito embora a compreenda, não posso ser concordante com ela.
Porque, e explano sempre as minhas razões, as atitudes que os funcionários destas escolas têm tido em relação a estes dois casos, é o que deve ser eticamente a norma, não a excepção. E um prémio deve ser dado a quem vai além da norma, não a quem somente a cumpre. E o facto de, na maioria de outras escolas, a situação ser a contrária, não faz destas melhores. O tratamento dado a estes dois alunos é o que deve ser dado a todo e qualquer outro aluno. Portanto nada mais fazem do que é a sua obrigação.
Em vez disso seria bem mais interessante que fossem às outras escolas falarem sobre transexualidade e auscultarem qual é a verdadeira sensibilidade sobre estes assuntos. Por exemplo, fujam das cidades e vão para escolas secundárias mais provinciais e saboreiem um pouco da realidade do nosso país. Era, de certeza, muito mais útil. Ou organizarem protestos nas escolas onde existam pessoas sujeitas a discriminação e violência.
Como balanço temos os organizadores do costume a convidarem os oradores do costume (em relação aos psis), a darem exemplos não concordantes com o tema subjacente que originou a tertúlia (o TDOR, os crimes de ódio), com os grupos/organizações do costume ligadas á ILGA Portugal.
Tal como com o meu contributo para as propostas de lei de alteração de lei e género, feito com escritos (as usual) e reuniões com elementos tanto do PS como do BE, fico com a satisfação de, pelo menos em relação às comemorações referentes ao TDOR, esta tertúlia ter sido obra minha. Não directamente, mas graças à minha luta, aos meus escritos sempre a criticar a não existência da comemoração deste dia em Portugal e o desinteresse das associações e grupos portugueses em relação a este dia. Ainda vivi o suficiente para ver o princípio dos frutos da minha luta. E isso ninguém me tira.
E pelas 20 horas lá saímos de casa, eu e a Lara, para nos dirigirmos ao Centro Comunitário, onde se realizou a dita tertúlia, com uma paragem numa bomba de gasolina para meter 20 euritos (que têm de dar para a semana toda) e comprar o fatídico tabaquito.
Pelas 20h e 40 minutos já lá estávamos.
Como seria de esperar, ou não estivéssemos em Portugal, a tertúlia começou atrasada. Fiquei sem ter a certeza se devido a atrasos de oradores da mesa se numa tentativa de esperar que mais gente chegasse, pois a assistência não era muita. Mas também nunca o é.
O leque de oradores era composta da seguinte maneira: o representante usual da rede para estes temas, a representante usual do GRIT (e da API, da ILGA e penso que também pertencerá à rede), uma psicóloga professora no ISCTE, e duas pessoas transexuais (um masculino e uma feminina) com as respectivas mães.
Não vou detalhar pormenorizadamente o decorrer dos testemunhos e opiniões, até porque não tirei apontamentos, portanto vai mesmo de memória.
Começou a falar o representante da rede, que deu a palavra à Júlia (do GRIT, API, etc) que leu os nomes das pessoas que morreram este mês de acordo com os dados emitidos pela TGEU através do projecto Transrespect versus Transphobia. Que ontem já se encontrava desactualizada em mais duas mortes, e uma terceira que soube quando cheguei a casa. Seguiu-se um minuto de silêncio em memória das vítimas.
Depois falou a psicóloga. Não se percebe qual é a fixação que a rede e o GRIT têm pela omnipresença de psis em tudo que se relacione com transexualidade. Será que as comunidades LGB têm um desejo secreto de serem patologizadas? Se calhar foi um erro a saída da orientação sexual das patologias, a julgar pelo afinco com que, invariavelmente, aparecem em todos os eventos relacionados com transexualidade.
Agora num evento em que o mote principal era a transfobia parece-me que essa mania da patologização foi levada a um extremo. Não vi justificação nenhuma para essa presença na mesa.
Teve várias intervenções durante a noite, pois como psicóloga que é teve sempre qualquer coisa a dizer, mas o que me ficou na memória foi a associação da transfobia a outras discriminações como contra as pessoas deficientes, entre outros exemplos que deu. Mas deve-se ter esquecido que, e pegando no exemplo, não tenho conhecimento de nenhum crime de morte perpretado contra uma pessoa deficiente por ser deficiente, enquanto contra as pessoas trans é o que se sabe. Psicologias à parte, não gostei das intervenções, embora numa coisa concorde com o que disse: que a discriminação e violência não vai acabar nunca. Ou pelo menos num muito longo prazo.
Pelos testemunhos dados pelas pessoas transexuais presentes da sua experiência de vida, e se eu fosse uma pessoa que estivesse de fora destes assuntos, depois de ouvir os seus testemunhos teria ficado com a impressão que transfobia é coisa que não existe em Portugal. Os amigos compreendem e aceitam, os colegas idem, os pais idem, professores idem, epah é uma maravilha este Portugal à beira mar plantado.
Num evento supostamente inserido no TDOR, estes depoimentos saíram completamente fora de tom. De tal maneira que algumas pessoas da assistência indagaram esse mesmo facto à mesa. Salvou-se o depoimento (forçado por este reparo) da Júlia, que mencionou o inferno que passou nas escolas e no sítio onde vive. E vivendo eu também nesta margem sul (ou neste deserto, segundo outros) e conhecendo o tipo de gentinha que vive por aqui (e fora de Almada é pior) não me custou nada imaginar situações como as que descreveu.
Convenhamos, os preconceitos são de tal ordem que um suposto apoiante das pessoas transexuais me escrevia o seguinte: (...) por ter conhecido bem uma trans que inicialmente pensei ser mulher e pela qual muito me sentia atraido(...). Portanto não era mulher, só parecia, e no entanto trata-a no feminino, portanto também não a devia considerar homem. Talvez, sei lá, uma marciana? Até supostos apoiantes negam a identidade da pessoa trans. Adorei.
As mães falaram também, e aqui foi mesmo o descalabro, pelo menos da parte de uma delas. As duas afirmações de que me recordo são que, por exemplo, em relação àos wcs, que se uma pessoa souber quem é não terá problemas.
Imediatamente me veio à memória o caso de uma trans, nos EUA, que foi a uma casa de banho feminina, pois tinha perfeita consciência de quem era, e levou uma tal carga de pancada que teve um ataque e ficou caída no chão. Eu própria divulguei o vídeo e acompanhei o caso. Mas provavelmente devido à censura praticada pela AMPLOS e assumida à frente de toda a gente que lá se encontrava pela presidente (para não alarmar demasiado as mães de pessoas trans, foi a desculpa), essa mãe não deve ter dado por esse acontecimento.
E os casos de Gisberta e de Luna vêm lembrar que os costumes de Portugal não são assim tão brandos. Portanto não me espanta nada ver uma situação similar acontecer em Portugal.
A outra, e mais grave, foi a declaração de que o sucedido com Gisberta pode não ter tido a ver com transfobia. Esta foi uma tirada digna de pertencer à qualificação das “bacoradas”. Somente insinuar-se que tenha sido por Gisberta ser sem abrigo ou toxicodependente é tão absurdo e revelador da ignorância que existe, depois de tudo o que se escreveu, depois de tudo que se debateu, sobre este caso. Um caso em que, paralelamente, não existe a mínima dúvida que se tratou de transfobia.
Basta ler-se a declaração de uma destas bestas humanas, o cabecilha, o mais velho, que disse que “odiava gajos com mamas” ou “odiava travestis” a um jornal na época. Só esta frase já diz tudo. Some-se 3 dias de torturas variadas, tentativas de queimar o corpo por presumirem que estava morta, o ter sido jogada a um poço ainda viva e, depois de o constatarem, ter sido deixada para morrer afogada. Penso que isto diz tudo.
Não sei se este ignorância foi determinada com a absurda vontade da AMPLOS de esconder a realidade aos seus elementos. Se o foi é uma razão para que a AMPLOS reveja a sua atitude em relação aos crimes de ódio contra as pessoas trans. E não só por isso. Já soube de muitos casos em que, por se andar a esconder a realidade pessoal, uma pessoa acaba por ser vítima de agressões físicas violentas e que já levaram à morte. Porque, a juntar a um possível ódio, repulsa, nojo, medo ou o que quer que seja que torna uma pessoa transfóbica, encontra-se o sentimento de traição, de uma pessoa ter sido enganada. E a raiva que se sente nessa altura piora em muito a situação.
Do mesmo modo, um qualquer dia, a AMPLOS sujeita-se a que aconteça uma situação desagradável e a ser acusada de, ao esconder certas realidades, facilitar situações que de outro modo, com conhecimento, seriam mais fáceis de evitar.
Em relação à Gisberta, e para finalizar, o facto de ser sem abrigo não pode nem deve ser considerado como motivo, mas sim como uma situação que facilita este tipo de situações.
Em relação a (mais uma) declaração da AMPLOS que iria agradecer formalmente às escolas e professores onde andam os dois testemunhos dados, é uma atitude que, muito embora a compreenda, não posso ser concordante com ela.
Porque, e explano sempre as minhas razões, as atitudes que os funcionários destas escolas têm tido em relação a estes dois casos, é o que deve ser eticamente a norma, não a excepção. E um prémio deve ser dado a quem vai além da norma, não a quem somente a cumpre. E o facto de, na maioria de outras escolas, a situação ser a contrária, não faz destas melhores. O tratamento dado a estes dois alunos é o que deve ser dado a todo e qualquer outro aluno. Portanto nada mais fazem do que é a sua obrigação.
Em vez disso seria bem mais interessante que fossem às outras escolas falarem sobre transexualidade e auscultarem qual é a verdadeira sensibilidade sobre estes assuntos. Por exemplo, fujam das cidades e vão para escolas secundárias mais provinciais e saboreiem um pouco da realidade do nosso país. Era, de certeza, muito mais útil. Ou organizarem protestos nas escolas onde existam pessoas sujeitas a discriminação e violência.
Como balanço temos os organizadores do costume a convidarem os oradores do costume (em relação aos psis), a darem exemplos não concordantes com o tema subjacente que originou a tertúlia (o TDOR, os crimes de ódio), com os grupos/organizações do costume ligadas á ILGA Portugal.
Tal como com o meu contributo para as propostas de lei de alteração de lei e género, feito com escritos (as usual) e reuniões com elementos tanto do PS como do BE, fico com a satisfação de, pelo menos em relação às comemorações referentes ao TDOR, esta tertúlia ter sido obra minha. Não directamente, mas graças à minha luta, aos meus escritos sempre a criticar a não existência da comemoração deste dia em Portugal e o desinteresse das associações e grupos portugueses em relação a este dia. Ainda vivi o suficiente para ver o princípio dos frutos da minha luta. E isso ninguém me tira.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home