A rede ex aequo - associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e simpatizantes promove no próximo dia 3 de Dezembro a sétima edição dos seus Prémios Média, no Jardim de Inverno do São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa, às14h30 horas, na qual gostaríamos de contar com a vossa presença.
Os jovens homossexuais, bissexuais ou transgéneros, LGBT, segmento da população que constitui o alvo primordial do trabalho que desenvolve a rede ex aequo, a certa altura da sua vida descobrem que a sua orientação sexual ou identidade de género é diferente da norma. Não possuindo informação e com receio de pedir apoio para evitar a discriminação dos colegas, amigos e familiares passam por momentos difíceis, levando, entre outras situações, à solidão, ao isolamento, a comportamentos de risco, à depressão, à baixa auto-estima, ao insucesso escolar e, em casos extremos, mas demasiado frequentes, ao suicídio.
Conhecendo a gravidade destas situações, a rede ex aequo organiza este evento, para homenagear as figuras da comunicação social, artes e espectáculo em Portugal que, através do seu trabalho, dão visibilidade a algumas das muitas dificuldades sentidas pelos jovens LGBT. O seu contributo é fundamental para a desconstrução de estereótipos, infelizmente ainda associados à orientação sexual ou à identidade de género.
Neste contexto, a rede ex aequo, na sua 7ª edição dos Prémios Média tem a honra de distinguir, em ex aequo, as seguintes personalidades:
Alexandra Borges
Autoria das reportagens "Metamorfose", emitida pela TVI, e "Corpo de Eva, alma de Adão", publicada na revista LuxWoman
Programa Linha da Frente - RTP 1
Realização de "Finalmente mulher", emissão dedicada ao processo de reatribuição de sexo
Conceição Lino
Apresentadora do programa "Boa tarde", emitido pela SIC, pela abordagem à identidade de género e à orientação sexual nos blocos “Hoje sou mulher” e "Ter um filho homossexual"
Ana Soromenho
Autoria da peça “Gosto dela, gosto dele”, publicada na revista Única, do semanário Expresso
Diogo Infante
Director Artístico do Teatro D. Maria II, pela inclusão do "Ciclo sobre Amor e Sexualidade" e da peça "As Lágrimas Amargas de Petra von Kant" na programação
Clã
Composição e interpretação do tema "Arco-Íris", do álbum "Disco Voador"
Acrescentamos ainda que a primeira parte da cerimónia contará com a actuação de Márcia Santos.
Vem aí mais uma entrega de prémios da Rede ex aequo. Prémios esses que se destinam a “homenagear as figuras da comunicação social, artes e espectáculo em Portugal que, através do seu trabalho, dão visibilidade a algumas das muitas dificuldades sentidas pelos jovens LGBT. O seu contributo é fundamental para a desconstrução de estereótipos, infelizmente ainda associados à orientação sexual ou à identidade de género.”
Este comentário é dirigido ao que vi: a reportagem “Metamorfose” emitida pela TVI da autoria de Alexandra Borges (a reportagem "Corpo de Eva, alma de Adão", publicada na revista LuxWoman não li, logo está excluída deste comentário), o Programa Linha da Frente da RTP 1 pela realização de "Finalmente mulher", dedicada ao processo de correcção de sexo e a Conceição Lino, apresentadora do programa "Boa tarde", na SIC, pela abordagem à identidade de género no bloco “Hoje sou mulher”.
Nestes que refiro, as reportagens estão, de um modo geral, bem feitas e bem realizadas, por aí nada tenho a comentar. Quanto aos conteúdos propriamente ditos, já a coisa pia mais fino.
O que se nota aqui é a premiação da continuação dos estereótipos sobre a transexualidade. Primeiro pela usual, contínua e errada associação género/genitália. Como sempre, a identidade de género não interessa para nada. Se se é homem, tem-se pénis; se se é mulher, tem-se vagina (ou neovagina, whatever); ponto final.
Depois de terem feito as reportagens nem sequer pensaram que, se uma pessoa deseja a cirurgia é porque É mulher, não porque quer ser mulher (ou vice versa). Nenhuma pessoa transexual quer ser mulher (embora muitas vezes seja essa a maneira de expressar o que se sente) porque mulheres já nós somos. É a nossa identidade de género feminina que o dita. (ou vice versa).
O foco da transexualidade encontra-se na identidade de género, não nas cirurgias a que uma pessoa deseje (ou não) submeter-se. E aqui todas as reportagens falham redondamente. Atente-se nos títulos de duas delas: “Finalmente mulher”, o que implica que anteriormente não se era mulher, e “Hoje sou mulher”, com as mesmas implicações.
Todas referem as pessoas transexuais como doentes. A conversa é sempre a mesma: ai coitadinha de mim, que sou tããããão doentinha e sofro tanto com isto. Como estereótipo é do melhor que há. Claro que existem pessoas transexuais que não sofrem tanto assim, mas a essas não convém dar visibilidade senão ainda cortam os tratamentos ou cirurgias. Ninguém nega que em certos casos a negação de tais factos pode levar a suicídios. Mas não se pode negar também o contrário, que noutros casos as pessoas não se suicidam, aguentam e continuam em frente. A cultura da doença (mental, como é considerada) desacredita as pessoas transexuais. Pena que existam ainda pessoas que se recusam a ver isto.
Todas as reportagens focam a vida particular de pessoas transexuais, onde podem falar da discriminação e dos vários problemas que se sofre por se ser quem é. Mas todas falham ao omitirem os problemas que as pessoas transexuais passam nos seus processos no SNS. E toda a gente sabe que existem problemas. E toda a gente sabe que esses problemas nunca vêm a público. Ou por medo ou por outra qualquer razão, esses problemas são escamoteados e apagados. E estas reportagens novamente passam ao lado destes assuntos. Pelo conteúdo, já houve inúmeras reportagens a focarem a pessoa transexual. Eu mesma já dei algumas até desistir por serem todas iguais, focando sempre os mesmos aspectos e apagando sempre os mesmos aspectos. Os culpados do costume.
Portanto pela visibilidade de problemas ficam-se pela metade e pelo tratamento usual da transexualidade e das pessoas transexuais. Pergunto-me se isto será de premiar.
Também todas as reportagens pecam pela mais completa ausência de toda e qualquer menção sobre as pessoas transexuais que não desejam submeter-se a todas as cirurgias, ou que só desejam parte delas. São os discriminados da comunidade, pela sociedade e pelos media, que ignoram a identidade de género de cada pessoa focando-se unicamente na genitália, e pela própria comunidade transexual.
E no entanto eles andem aí. E no entanto têm tanto direito de verem reconhecida a sua identidade de género como qualquer outra pessoa. E no entanto continuam a ser ignorados e ocultados. Nem a mais leve menção se vê. Como discriminação leva nota 20.
E por todas estas razões eu pergunto-me se as reportagens, independentemente de estarem bem feitas e/ou bem realizadas, merecem efectivamente estes prémios. Afinal na desconstrução de estereótipos nada fazem, pelo contrário, dão continuidade e divulgação aos estereótipos.
Os jovens homossexuais, bissexuais ou transgéneros, LGBT, segmento da população que constitui o alvo primordial do trabalho que desenvolve a rede ex aequo, a certa altura da sua vida descobrem que a sua orientação sexual ou identidade de género é diferente da norma. Não possuindo informação e com receio de pedir apoio para evitar a discriminação dos colegas, amigos e familiares passam por momentos difíceis, levando, entre outras situações, à solidão, ao isolamento, a comportamentos de risco, à depressão, à baixa auto-estima, ao insucesso escolar e, em casos extremos, mas demasiado frequentes, ao suicídio.
Conhecendo a gravidade destas situações, a rede ex aequo organiza este evento, para homenagear as figuras da comunicação social, artes e espectáculo em Portugal que, através do seu trabalho, dão visibilidade a algumas das muitas dificuldades sentidas pelos jovens LGBT. O seu contributo é fundamental para a desconstrução de estereótipos, infelizmente ainda associados à orientação sexual ou à identidade de género.
Neste contexto, a rede ex aequo, na sua 7ª edição dos Prémios Média tem a honra de distinguir, em ex aequo, as seguintes personalidades:
Alexandra Borges
Autoria das reportagens "Metamorfose", emitida pela TVI, e "Corpo de Eva, alma de Adão", publicada na revista LuxWoman
Programa Linha da Frente - RTP 1
Realização de "Finalmente mulher", emissão dedicada ao processo de reatribuição de sexo
Conceição Lino
Apresentadora do programa "Boa tarde", emitido pela SIC, pela abordagem à identidade de género e à orientação sexual nos blocos “Hoje sou mulher” e "Ter um filho homossexual"
Ana Soromenho
Autoria da peça “Gosto dela, gosto dele”, publicada na revista Única, do semanário Expresso
Diogo Infante
Director Artístico do Teatro D. Maria II, pela inclusão do "Ciclo sobre Amor e Sexualidade" e da peça "As Lágrimas Amargas de Petra von Kant" na programação
Clã
Composição e interpretação do tema "Arco-Íris", do álbum "Disco Voador"
Acrescentamos ainda que a primeira parte da cerimónia contará com a actuação de Márcia Santos.
Vem aí mais uma entrega de prémios da Rede ex aequo. Prémios esses que se destinam a “homenagear as figuras da comunicação social, artes e espectáculo em Portugal que, através do seu trabalho, dão visibilidade a algumas das muitas dificuldades sentidas pelos jovens LGBT. O seu contributo é fundamental para a desconstrução de estereótipos, infelizmente ainda associados à orientação sexual ou à identidade de género.”
Este comentário é dirigido ao que vi: a reportagem “Metamorfose” emitida pela TVI da autoria de Alexandra Borges (a reportagem "Corpo de Eva, alma de Adão", publicada na revista LuxWoman não li, logo está excluída deste comentário), o Programa Linha da Frente da RTP 1 pela realização de "Finalmente mulher", dedicada ao processo de correcção de sexo e a Conceição Lino, apresentadora do programa "Boa tarde", na SIC, pela abordagem à identidade de género no bloco “Hoje sou mulher”.
Nestes que refiro, as reportagens estão, de um modo geral, bem feitas e bem realizadas, por aí nada tenho a comentar. Quanto aos conteúdos propriamente ditos, já a coisa pia mais fino.
O que se nota aqui é a premiação da continuação dos estereótipos sobre a transexualidade. Primeiro pela usual, contínua e errada associação género/genitália. Como sempre, a identidade de género não interessa para nada. Se se é homem, tem-se pénis; se se é mulher, tem-se vagina (ou neovagina, whatever); ponto final.
Depois de terem feito as reportagens nem sequer pensaram que, se uma pessoa deseja a cirurgia é porque É mulher, não porque quer ser mulher (ou vice versa). Nenhuma pessoa transexual quer ser mulher (embora muitas vezes seja essa a maneira de expressar o que se sente) porque mulheres já nós somos. É a nossa identidade de género feminina que o dita. (ou vice versa).
O foco da transexualidade encontra-se na identidade de género, não nas cirurgias a que uma pessoa deseje (ou não) submeter-se. E aqui todas as reportagens falham redondamente. Atente-se nos títulos de duas delas: “Finalmente mulher”, o que implica que anteriormente não se era mulher, e “Hoje sou mulher”, com as mesmas implicações.
Todas referem as pessoas transexuais como doentes. A conversa é sempre a mesma: ai coitadinha de mim, que sou tããããão doentinha e sofro tanto com isto. Como estereótipo é do melhor que há. Claro que existem pessoas transexuais que não sofrem tanto assim, mas a essas não convém dar visibilidade senão ainda cortam os tratamentos ou cirurgias. Ninguém nega que em certos casos a negação de tais factos pode levar a suicídios. Mas não se pode negar também o contrário, que noutros casos as pessoas não se suicidam, aguentam e continuam em frente. A cultura da doença (mental, como é considerada) desacredita as pessoas transexuais. Pena que existam ainda pessoas que se recusam a ver isto.
Todas as reportagens focam a vida particular de pessoas transexuais, onde podem falar da discriminação e dos vários problemas que se sofre por se ser quem é. Mas todas falham ao omitirem os problemas que as pessoas transexuais passam nos seus processos no SNS. E toda a gente sabe que existem problemas. E toda a gente sabe que esses problemas nunca vêm a público. Ou por medo ou por outra qualquer razão, esses problemas são escamoteados e apagados. E estas reportagens novamente passam ao lado destes assuntos. Pelo conteúdo, já houve inúmeras reportagens a focarem a pessoa transexual. Eu mesma já dei algumas até desistir por serem todas iguais, focando sempre os mesmos aspectos e apagando sempre os mesmos aspectos. Os culpados do costume.
Portanto pela visibilidade de problemas ficam-se pela metade e pelo tratamento usual da transexualidade e das pessoas transexuais. Pergunto-me se isto será de premiar.
Também todas as reportagens pecam pela mais completa ausência de toda e qualquer menção sobre as pessoas transexuais que não desejam submeter-se a todas as cirurgias, ou que só desejam parte delas. São os discriminados da comunidade, pela sociedade e pelos media, que ignoram a identidade de género de cada pessoa focando-se unicamente na genitália, e pela própria comunidade transexual.
E no entanto eles andem aí. E no entanto têm tanto direito de verem reconhecida a sua identidade de género como qualquer outra pessoa. E no entanto continuam a ser ignorados e ocultados. Nem a mais leve menção se vê. Como discriminação leva nota 20.
E por todas estas razões eu pergunto-me se as reportagens, independentemente de estarem bem feitas e/ou bem realizadas, merecem efectivamente estes prémios. Afinal na desconstrução de estereótipos nada fazem, pelo contrário, dão continuidade e divulgação aos estereótipos.
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