Grupo Transexual Portugal -- Comunicado
A 20 de Novembro, activistas trans e simpatizantes reunir-se-ão em Allston em memória de Rita Hester, uma mulher cujo assassínio há 14 anos chocou profundamente a comunidade trans local e mudou a resposta que a comunidade local, nacional e internacional dá contra a violência anti-trans.
Hester, mulher trans assumida e muito popular entre as comunidades trans e do rock’n’roll de Boston, foi vista pela última vez no bar Allston Silhouette, de onde saiu acompanhada por dois homens, um dos quais seria um conhecido dela.
Foi brutalmente esfaqueada pelo menos 20 vezes no tronco em sua casa por um ou mais desconhecidos. O seu corpo foi encontrado a 28 de Novembro de 1998.
O motivo do ataque continua desconhecido, bem como a identidade do ou dos assassinos. As jóias de ouro que usava não foram roubadas e não havia sinais de entrada forçada no seu apartamento. Hester teria trabalhado como trabalhadora sexual com o nome de Naomi, mas não existem evidências que o ou os assassinos seriam clientes.
A cobertura mediática deste crime foi vergonhosa, particularmente no Boston Herald e no Bay Windows, em que ambos os jornais se referiram a ela com pronomes masculinos. O Herald referiu-se a ela repetidamente como um travesti. A onda de repúdio que se gerou por estes tratamentos fez com que o na altura editor do Bay Windows Jeff Epperly escrevesse um editorial acusando os críticos de agirem como uma polícia do pensamento.
Em 2006 a polícia reabriu o caso a pedido da mãe e indagaram junto da comunidade trans por alguma novidade em relação ao caso, que permanece não resolvido até hoje. É opinião geral na comunidade trans de Boston que o assassínio de Hester foi um crime de ódio, suspeitas substanciadas pela brutalidade do ataque e pelo facto de nada parecer ter sido roubado do apartamento.
Este crime, evidentemente, não foi o primeiro a unir a comunidade trans. Em 1995, o assassinato de outra mulher trans, Chanelle Pickett, originou uma vigília na igreja de Arlington Street, em Boston.
Mas a morte de Hester representou um ponto de viragem na comunidade trans de Boston, despoletando um espírito acivista que depressa se espalhou pelo país e pelo mundo. Uma multidão de mais de 200 pessoas compareceram numa vigília organizada pela comunidade em Allston e a uma marcha em Dezembro desse ano, muitas não pertencentes à comunidade trans.
No rescaldo deste caso, activistas de San Francisco criaram o Day of Remembrance em 1999 em memória de Hester. 20 de Novembro foi a data escolhida para o evento, que depressa se espalhou pelo resto do mundo. Neste dia revive-se a memória de quem nos deixou devido a crimes.
O site Remember Our Dead foi criado para que a memória destes crimes não se perca. Mais recentemente, o projecto Transrespect versus Transphobia foi criado na Europa com a mesma intenção.
Tal como com o caso de Hester, a maioria dos assassinatos permanecem não resolvidos.
Em Portugal, o caso mais mediático de Gisberta Salce Junior, mulher trans imigrante brasileira sem abrigo, toxicodependente e HIV +, torturada durante 3 dias por um grupo de jovens em 2006 e abandonada para falecer afogada num buraco no Porto é um dos casos que deve ser mantido na memória colectiva. A junção de todas estas situações (transexualiadde, toxicodependência, ser sero positiva e sem abrigo) contribuíram para o terrível desfecho, embora a motivação mais forte (e a única que se conhece) seja a transfobia, bem descrita nas palavras de um dos assassinos que “detestava homens com mamas”.
O triste desfecho deste caso já era adivinhado nas palavras do procurador público encarregue do caso, que o considerou uma “brincadeira que correu mal”, bem como de inúmeras organizações de apoio a vítimas e a menores desfavorecidos, que tentaram por todos os meios desculpabilizar os “inocentes jovens” que numa inocente brincadeira torturaram durante 3 dias uma pessoa e, julgando-a morta ao fim desse tempo, tentaram queimá-la e atiraram-na para um buraco com água onde, ainda viva, os seus pedidos de socorro foram por eles ignorados.
O caso de Luna, em 2008, mulher trans também imigrante brasileira, cujo corpo foi encontrado semi enterrado num contentor de resíduos na zona da grande Lisboa, é outro caso de morte violenta. Deste pouco mais se sabe. Nunca foi resolvido, e o facto de na mesma altura terem havido outras mortes mais mediáticas contribuiu decisivamente para o seu esquecimento.
Infelizmente, este ano (entre 15 de Novembro de 2011 e 14 de Novembro de 2012) existem mais 265 trans a serem acrescentadas à lista para serem recordadas, de acordo com a mais recente actualização do projecto da Transgender Europe “Murder Monitoring Project”. No total, desde Janeiro de 2008, os resultados mostram que 1083 pessoas trans foram assassinadas em 56 países. Para acederem à listagem e informação sobre estes assassinatos, clicar AQUI.
Comparando com os resultados de anos passados, testemunha-se um aumento significativo, bem exemplificativo dos extremos níveis de violência a que as pessoas trans estão expostas: 162 em 2009, 179 em 2010 e 221 em 2011.
Das 265 mortes noticiadas, 126 foram no Brasil, 48 no México, 15 nos EUA, 9 na Venezuela, 8 nas Honduras, 6 na Colombia, Índia e Uruguai, 5 na Guatemala, Turquia e Paquistão e 4 nas Filipinas.
Por todas estas vítimas, estamos aqui a denunciar.
Para que não se esqueçam.
Hester, mulher trans assumida e muito popular entre as comunidades trans e do rock’n’roll de Boston, foi vista pela última vez no bar Allston Silhouette, de onde saiu acompanhada por dois homens, um dos quais seria um conhecido dela.
Foi brutalmente esfaqueada pelo menos 20 vezes no tronco em sua casa por um ou mais desconhecidos. O seu corpo foi encontrado a 28 de Novembro de 1998.
O motivo do ataque continua desconhecido, bem como a identidade do ou dos assassinos. As jóias de ouro que usava não foram roubadas e não havia sinais de entrada forçada no seu apartamento. Hester teria trabalhado como trabalhadora sexual com o nome de Naomi, mas não existem evidências que o ou os assassinos seriam clientes.
A cobertura mediática deste crime foi vergonhosa, particularmente no Boston Herald e no Bay Windows, em que ambos os jornais se referiram a ela com pronomes masculinos. O Herald referiu-se a ela repetidamente como um travesti. A onda de repúdio que se gerou por estes tratamentos fez com que o na altura editor do Bay Windows Jeff Epperly escrevesse um editorial acusando os críticos de agirem como uma polícia do pensamento.
Em 2006 a polícia reabriu o caso a pedido da mãe e indagaram junto da comunidade trans por alguma novidade em relação ao caso, que permanece não resolvido até hoje. É opinião geral na comunidade trans de Boston que o assassínio de Hester foi um crime de ódio, suspeitas substanciadas pela brutalidade do ataque e pelo facto de nada parecer ter sido roubado do apartamento.
Este crime, evidentemente, não foi o primeiro a unir a comunidade trans. Em 1995, o assassinato de outra mulher trans, Chanelle Pickett, originou uma vigília na igreja de Arlington Street, em Boston.
Mas a morte de Hester representou um ponto de viragem na comunidade trans de Boston, despoletando um espírito acivista que depressa se espalhou pelo país e pelo mundo. Uma multidão de mais de 200 pessoas compareceram numa vigília organizada pela comunidade em Allston e a uma marcha em Dezembro desse ano, muitas não pertencentes à comunidade trans.
No rescaldo deste caso, activistas de San Francisco criaram o Day of Remembrance em 1999 em memória de Hester. 20 de Novembro foi a data escolhida para o evento, que depressa se espalhou pelo resto do mundo. Neste dia revive-se a memória de quem nos deixou devido a crimes.
O site Remember Our Dead foi criado para que a memória destes crimes não se perca. Mais recentemente, o projecto Transrespect versus Transphobia foi criado na Europa com a mesma intenção.
Tal como com o caso de Hester, a maioria dos assassinatos permanecem não resolvidos.
Em Portugal, o caso mais mediático de Gisberta Salce Junior, mulher trans imigrante brasileira sem abrigo, toxicodependente e HIV +, torturada durante 3 dias por um grupo de jovens em 2006 e abandonada para falecer afogada num buraco no Porto é um dos casos que deve ser mantido na memória colectiva. A junção de todas estas situações (transexualiadde, toxicodependência, ser sero positiva e sem abrigo) contribuíram para o terrível desfecho, embora a motivação mais forte (e a única que se conhece) seja a transfobia, bem descrita nas palavras de um dos assassinos que “detestava homens com mamas”.
O triste desfecho deste caso já era adivinhado nas palavras do procurador público encarregue do caso, que o considerou uma “brincadeira que correu mal”, bem como de inúmeras organizações de apoio a vítimas e a menores desfavorecidos, que tentaram por todos os meios desculpabilizar os “inocentes jovens” que numa inocente brincadeira torturaram durante 3 dias uma pessoa e, julgando-a morta ao fim desse tempo, tentaram queimá-la e atiraram-na para um buraco com água onde, ainda viva, os seus pedidos de socorro foram por eles ignorados.
O caso de Luna, em 2008, mulher trans também imigrante brasileira, cujo corpo foi encontrado semi enterrado num contentor de resíduos na zona da grande Lisboa, é outro caso de morte violenta. Deste pouco mais se sabe. Nunca foi resolvido, e o facto de na mesma altura terem havido outras mortes mais mediáticas contribuiu decisivamente para o seu esquecimento.
Infelizmente, este ano (entre 15 de Novembro de 2011 e 14 de Novembro de 2012) existem mais 265 trans a serem acrescentadas à lista para serem recordadas, de acordo com a mais recente actualização do projecto da Transgender Europe “Murder Monitoring Project”. No total, desde Janeiro de 2008, os resultados mostram que 1083 pessoas trans foram assassinadas em 56 países. Para acederem à listagem e informação sobre estes assassinatos, clicar AQUI.
Comparando com os resultados de anos passados, testemunha-se um aumento significativo, bem exemplificativo dos extremos níveis de violência a que as pessoas trans estão expostas: 162 em 2009, 179 em 2010 e 221 em 2011.
Das 265 mortes noticiadas, 126 foram no Brasil, 48 no México, 15 nos EUA, 9 na Venezuela, 8 nas Honduras, 6 na Colombia, Índia e Uruguai, 5 na Guatemala, Turquia e Paquistão e 4 nas Filipinas.
Por todas estas vítimas, estamos aqui a denunciar.
Para que não se esqueçam.
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