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quinta-feira, novembro 20, 2014

Comunicado GTP: 16º TDOR



Celebra-se hoje, 20 de Novembro, o 16º Transgender Day Of Remembrance, ou TDOR. Este dia, em que se evocam as pessoas trans vítimas de homicídios, começou a ser celebrado nos EUA, em memória de Rita Hester, uma dessas vítimas, e é hoje celebrado em mais de 180 cidades de 20 países à volta do mundo na América do Norte, Europa, Ásia, África e Oceânia.

A ideia subjacente a esta iniciativa é um chamamento à atenção social dos crimes perpetrados contra pessoas trans, bem como avivar um sentimento de comunidade entre essas pessoas, onde se pode fazer o luto pelos seus mortos, bem como honrar a memória de pessoas que de outro modo seriam esquecidas.

Baseada nas listagens emitidas pelo Trans Murder Monitoring Project (TMM) duas vezes por ano, que se iniciou em Abril de 2009 e que monitoriza, colecta e analisa notícias de homicídios mundialmente, este ano conta com uma listagem de mais de 226 assassínios de pessoas trans, que pode ser consultada no site do projecto Transrespect versus Transphobia Worldwide sob as formas de tabelas, listagens de nomes e mapas.

Todos os anos em Novembro, a Transgender Europe emite um comunicado especial dos resultados obtidos pelo TMM com a intenção de ajudar activistas pelo mundo fora a conscencializarem a(s) sociedade(s) dos crimes de ódio cometidos contra a comunidade trans, sendo que este ano foram contabilizados 226 crimes de pessoas trans de 1 de Outubro de 2013 a 30 de Setembro de 2014. Desde 1 de Janeiro de 2008 foram contabilizados 1.612 crimes em 62 países,.

Foram reportados crimes em 28 países nos últimos 12 meses, sendo os mais relevantes: 113 no Brasil, 31 no México, 12 nas Honduras, 10 nos EUA e 10 na Venezuela. Estes casos são os que puderam ser encontrados em pesquisas na internet e pela colaboração com organizações e activistas trans. Em muitos países, a informação sobre assassinatos de pessoas trans não é produzida, sendo impossível estimar a quantidade de casos não reportados.

Estes números alarmantes demonstram de forma bem clara a premente necessidade de reacção contra a violência sobre a comunidade trans, bem como a necessidade de procura de mecanismos que a protejam.

Começa-se mesmo a falar em “transcídio” por parte de alguns activistas trans, face à continuidade de elevados níveis de violência mortal sobre a comunidade trans numa escala global e uma coligação de Organizações Não Governamentais (ONG’s) da América do Sul e Europa iniciaram a campanha “Stop Trans Genocide”.

Com casos em todas as regiões mundiais (Europa, Àsia, África, Américas do Norte, Central e Sul e Oceânia), os números mais relevantes encontrados em países com movimentos trans ou LGBT foram os seguintes: Brasil 644, México 177, Venezuela 83, Colombia 82 e Honduras 70 nas Américas Central e do Sul, 100 nos EUA na América do Norte, Turquia 36 e Itália 27 na Europa, Índia 37 e Filipinas 32 na Àsia.

Desde 2008, 1.267 assassinatos nas Américas Central e do Sul, que representam 79% do total.
138 assassinatos na Àsia em 16 países,
104 assassinatos na América do Norte.
90 assassinatos na Europa em 13 países.
9 assassinatos em África em 4 países.
4 assassinatos na Oceânia em 4 países.

O Transgender Violence Tracking Portal, por sua vez, desde o seu início em Março de 2014, tem recolhido informações sobre violência exercida sobre indivíduos trans globalmente, recolheu mais de 2200 informações directas e mais de 8500 adicionais através de pesquisa informática, tendo encontrado, além dos assassinatos, 77 casos de violência física directa, 6 suicídios, 4 mortes por silicone industrial, e 3 pessoas desaparecidas, de 19 de Novembro de 2013 a 14 de Novembro de 2014. 


A cada 32 horas, uma pessoa trans é assassinada, muitas vezes com requintes de sadismo e malvadez, como se pode ver a seguir:
  • Uma mulher trans na Áustralia foi desmembrada e cozinhada pelo seu marido;
  • 5 mulheres trans e inúmeras outras pessoas foram queimadas num clube com uma bomba
  • Duas mulheres trans foram esfoladas vivas
  • Uma jovem de 18 anos foi arrastada por uma moto através de uma cidade resultando em traumatismos cranianos e na morte.
  • Uma jovem de 16 anos foi amarrada e queimada repetidamente na face e torturada até à morte.
  • Um adolescente foi queimado num autocarro ao ir para casa da escola.


Assim pode-se concluir que o Brasil continua a ser o país mais violento contra a comunidade trans. Com uma percentagem de 25.2 homicídios por cada 100.000 habitantes, o Brasil tem o recorde de 58% de todos os homicídios contra pessoas trans.
Nos Estados Unidos as pessoas trans afro-americanas continuam a ser os alvos preferênciais da violência e homicídios trans.

Estes números só contam uma pequena parte das tragédias. As histórias sobre estas pessoas são muito mais que meros números numa base de dados. Eram irmãs, irmãos, amigas, pais, avós e muito mais.

Denúncias sobre violência, assassinatos, desaparecimentos, suicídios ou bullying podem ser feitos aqui.

É contra isto tudo, e para denunciar, que existe o TDOR. Depois de algumas tentativas para implementar este dia em Portugal, protagonizadas pelo Grupo Transexual Portugal, Panteras Rosa e Rede ex-aequo (não necessariamente em sumultâneo nem juntas), com o resultado da quase total indiferença da população trans e da esmagadora maioria dos grupos e/ou associações LGBT, este ano não se conhece nenhuma acção preparada para este dia.

O Grupo Transexual Portugal, como grupo dedicado à defesa dos direitos humanos, especialmente da população trans, não pode deixar de se associar à lembrança e denúncia destes casos que continuam a manchar a humanidade e as religiões, bem como à condenação da indiferença social perante estes casos, muito especialmente por parte da (in)existente comunidade trans nacional.