Transfofa em Blog

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domingo, fevereiro 20, 2011

O Dr. Harry Benjamin, na sua infinita sapiência, graduou as pessoas transexuais mediante critérios que formulou enquanto estudava os seus casos.

No entanto Harry, quando descreveu as graduações, classificou-as sempre como transexualidade, primária, secundária etc, mas sempre como transexualidade.

Convenhamos, podia perfeitamente ter dividido em transexuais, travestis, transvestis, transuais, travestuais, enfim, uma nomenclatura que separasse quem era transexual de quem não era. mas, independentemente da pessoa desejar, por exemplo, submeter-se à CRS ou não, chamou sempre de transexuais. Melhor dizendo, transexualidade primária, secundária, etc.

Posto isto, e depois de citar Harry Benjamin que é o ai-jesus da maioria das pessoas transexuais, entremos então no que me levou a pensar um bocado neste assunto.

Volta e meia, aparecem na net uns comentários de pessoas que se dizem transexuais operadas a afirmarem que a cirurgia é condição necessária para se ser transexual. As outras são “travestis” ou qualquer coisa assim.

Como eu costumo dizer, cada um come do que gosta (salvo os sapos que eventualmente temos de engolir durante a nossa estadia neste maravilhoso paraíso que é o planeta Terra). No entanto isto faz-me pensar em determinadas coisas.

Por exemplo, uma transexual feminina (nos masculinos é vice-versa), desde que toma consciência da sua identidade de género e, consequentemente, da sua transexualidade, não tem a mais pequena dúvida de que é mulher. Transexual, sim, mas mulher. E isto, claro está, mesmo antes de iniciar o seu processo de transição. Portanto cirurgias nem se fala.

Ora a existência de pessoas que só se consideram mulheres depois de completadas as cirurgias, faz-me duvidar muito da sua transexualidade. E porquê? Porque, pelo que dizem, nunca se consideraram mulheres, salvo depois da cirurgia.

Não entrando em discussões sobre género, vamos assumir o binarismo de género: masculino e feminino. Ora se estas pessoas não se consideravam como pertencentes ao género feminino, só poderiam considerar-se como do género masculino. Assim, em vez de serem “mulheres que nasceram com a genitália errada” devem ser “homens que querem ser mulheres”. E como não são mulheres, não se sentem mulheres, necessitam de fazer uma cirurgia de redesignação de sexo para obterem a sensação de que efectivamente são do género feminino.

E muitas vezes nem isto funciona, continuam a não se sentirem mulheres. E neste caso, a única maneira que descobrem de combater este sentimento de inadequação ao género a que querem pertencer, é precisamente denominarem-se “mulheres” por terem feito a CRS, diminuindo e menosprezando outras pessoas transexuais que, por nunca terem tido a mínima dúvida (salvo as iniciais que toda a gente tem) de quem são e a que género pertencem, não terem a necessidade premente e imperiosa de se submeterem a uma CRS.

Portanto estamos perante casos de pessoas que, não sendo transexuais (visto não se identificarem com o género feminino), mediante uma cirurgia, adquirem esse estatuto. Estes são os verdadeiros casos de homens que querem ser mulheres.

E os nossos psiquiatras e psicólogos, mediante uma vontade de uma pessoa se submeter à CRS, estão a ser total e completamente enganados. Não é que me admire muito.

Obviamente que não estou a afirmar que quem quer submeter-se à CRS entra nestes casos. Nada disso. Graças por uma maioria de transexuais que se submetem à CRS fazem-no precisamente por serem transexuais. Mas que existem casos assim, existem.

E infelizmente existem casos em que uma pessoa tem de se submeter à CRS para salvar a pele. Pense-se no Irão, por exemplo.

Aliás, como disse atrás, estes casos são relativamente fáceis de identificar. Lê-se num comentário, por exemplo, como este em que, no mesmo comentário diz: “Eu sou uma mulher transgender e sem duvida fui mulher desde nascença.” e mais à frente: “Sem duvdida aquelas que se dizem mulheres transgender mas mantem orgãos sexuais masculinos não passam de transvestis que criam muitos problemas e confusão para a comunidade trasngender verdadeira.”

Ou este outro: “Travesti e homossexualidade nada têm a ver com transexualidade! São muito diferentes a partir do ponto q o genêro deles não muda! No caso são e sempre foram homens. Nós transexuais negamos o nosso genêro sendo que nunca fizemos parte dele. No meu caso dizem que nasci homem, mas nunca o fui! Depois de anos intensos a negar a minha realidade tive que aceitar ou então não conseguiria mais viver! Sou transexual ou melhor uma mulher hoje muito feliz e activa na sociedade! Ninguem sabe do meu passado e me tratam sempre como devia ter sido desde o meu nascimento! Travestis por muito que queiram ser mulheres não o são porque nunca fazem cirurgia genital, ao passo dos transexuais o principal e o maior problema desde pequenos são com os genitais, dando então um forte e permanente desejo de mudança!”

Estes dois exemplos, focados unicamente no aspecto cirúrgico em vez da identidade de género são bem ilustrativos do tipo de gentinha de que eu falo.

A grande diferença entre uma pessoa transexual, operada ou não, e estes pseudo-transexuais, é que a pessoa transexual não tem necessidade de se afirmar excluindo e rebaixando outras pessoas, os pseudos têm, porque mesmo operados não se sentem completamente bem com a sua identidade adquirida. E a maneira mais fácil de subir a nossa auto-estima é precisamente excluindo e rebaixando outras pessoas.

Existem também casos de pessoas transexuais que, por causa de uma auto-estima baixa, se tornam vítimas da classe médica, sofrendo uma verdadeira lavagem cerebral, em que lhes é incutida à força a ideia de que “transexuais são as operadas”.

E o mais curioso e ridículo disto tudo é que são precisamente as pessoas transexuais (ou pseudo transexuais), aquelas cuja genitália não define a que género pertencem, que nascem com uma genitália oposta à sua identidade de género, que depois de corrigirem a genitália, mudam o discurso e aparecem a proclamar que mulheres têm de ter genitália a condizer. A ser assim, não existiam transexuais nem processos de transição, a genitália é que ditava o género a que cada pessoa pertenceria e as mulheres transexuais levavam era com tratamentos de masculinização e acabava-se a história. E estas pobres alminhas nem conseguem entender isto.

Então e a identidade de género? Não conta?

Este tipo de discurso exclusivo é lamentável, ainda por cima vindo de pessoas que se intitulam transexuais, numa época em que se luta pela diversidade.