Transfofa em Blog

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sexta-feira, setembro 30, 2011

Mudar de hospital: a luta
Parte II: bater contra as paredes



Há muito, muito tempo, numa galáxia muito muito longe...

Depois de ter ido ao Júlio de Matos pedir a transferência do processo, resolvi aguardar para dar algum tempo para o processo seguir viagem e para que no Santa Maria, ao receberem o processo, me marcassem consulta.

Neste compasso de espera, aqui ficam mais alguns dados sobre o passado.

No seguimento da saída do Dr Pedro Freitas do Hospital Júlio de Matos, e ainda com Íris Monteiro em plenas funções, marcou-me uma consulta com um psiquiatra, do qual não me recordo o nome, ainda jovem. E lá fui eu falar com o Sr Dr. A meio da consulta, da qual não tenho a data, pergunta-me ele: “Mas afinal porque é que lhe marcaram consulta comigo?”

Fiquei sem saber que resposta dar. Estava plenamente convencida que deveria ser o psiquiatra que trataria dos casos de transexualidade no hospital devido à saída do Dr Freitas. E o que lhe disse foi que tinha sido a Íris a marcar. Ele, coitado, lá me explicou que não tinha experiência nenhuma com pessoas transexuais e que ia contactar a Íris para saber os porquês. E a consulta acabou aí, e nunca mais o vi. Nem nunca mais tive contacto com qualquer psiquiatra lá.

Agora há datas que me faltam, mas a sequência dos acontecimentos está correcta. depois de algum tempo de espera, resolvi dirigir-me ao Júlio para pedir uma cópia do ofício em que tinha sido enviado o meu processo. Depois de me encontrar na posse da cópia, telefonei para o santa Maria para marcar consulta com o Prof Dr Rui Xavier Vieira, convencida que na altura da consulta o processo já lá estaria, visto as consultas serem quase sempre marcadas para um mês ou mais depois. Lá ma marcaram para daí a um mês e tal, e lá veio outro compasso de espera.

Nos entrementes, mais uma recordação. Quando ainda andava a fazer a segunda opinião com o Prof Dr Rui Xavier Vieira, e por sua ordem, estive duas manhãs e um dia inteiro a fazer testes psicológicos num piso lá para cima do Hospital. Nunca na minha vida tinha feito tantos testes de enfiada. Bem, mas fiquei a saber que possuo uma mente sã.

Veio a consulta e a minha confiança era tanta que assim que entrei no consultório retirei da minha mala a cópia do ofício e entreguei-lhe para ele ver. Com tanta sorte que, em vez de retirar o ofício (estava sem óculos) retirei um outro documento que nada tinha a ver. O Dr viu, e perguntou-me o que tinha ele a ver com o documento, e só aí é que vi o meu erro. Bem lá lhe entreguei o documento certo e nessa altura fiquei a saber que o processo não se encontrava lá.

Bem, fiquei desiludida, furiosa, zangada, uma mistura de emoções. Saí de lá e dirigi-me logo ao Júlio de Matos. Expliquei o caso e fui informada que a cópia do processo tinha sido enviada e que para enviarem outra vez tinha de ser o Prof Dr a requerer. Como já era tarde, regressei à base e uns dias depois, não me recordo bem de quantos, fui novamente ter com o Prof Dr para ver se ele requeria o processo. Durante esse tempo, ia telefonando para o Santa maria para ver se já lá tinha chegado. Cheguei a ligar para os arquivos, a ver se se encontrava lá arquivado por alguma razão, mas baldadamente. O processo não se encontrava lá. O Prof Dr recusou-se logo a pedi-lo, coisa de que já estava à espera. E fui para casa remoer.

Nos entrementes, mais uma recordação. Quando tive alta do internamento da tromboflebite, começei a pensar como iria resolver o problema do tratamento hormonal. Qualquer pessoa que conheça um bocadinho sobre as pessoas transexuais sabe que a hipótese de parar com o tratamento está completamente fora de questão. Mesmo com risco de vida. Voltar atrás é que não. Nunca. Portanto depois de muito labutarem, as minhas pequeninas células cinzentas deram-me uma ideia. Para parar com a ciproterona e poder diminuir as hormonas só havia um caminho a seguir: os tintins (testículos) fora o mais rápido possível para evitar mais danos provocados pela testosterona que produzem.

Vai daí, num dia em que a Lara foi falar com o Dr Décio Ferreira, mandei recado por ela para a possibilidade de os retirar as soon as possible. O Dr Décio atenciosamente prontificou-se logo a fazê-lo assim que a Ordem dos Médicos o autorizasse. Ou seja a OM sobrepõe-se a tudo, mesmo ao bem estar de pessoas que ao serem forçadas a continuar o tratamento hormonal possam pôr a sua vda em risco. E com o andar da carruagem bem podia dar-me um piripac e ir desta para melhor de vez que os nossos grandes cirurgiões ficavam com a consciência bem tranquila protegidos pela autorização (ou falta dela) da OM. Gostei de ver o nível de preocupação demonstrado porquem tão ciosamente afirma a pés juntos ser um defensor das pessoas trans e do seu bem-estar.

Mais dias se passaram e decidi-me a ir ao Júlio de Matos falar com a psicóloga Catarina Soares pois sabia que também tratava destes casos, a ver se, ou ficava com o meu processo, ou arranjava maneira de o reenviar. Isto, entretanto, já em Junho deste ano, pois o tempo foi passando (não pára).

A Catarina Soares declinou logo o ficar com o processo (já tinha pedido o seu envio, não havia volta a dar) e foi procurá-lo para o mandar enviar registado e com aviso de recepção. Quando regressou com o processo, fiquei a saber que o mesmo tinha sido reenviado uma segunda vez, depois da minha ida ao hospital a indagar.

Depois disto tudo, mais precisamente a 29 de Julho deste ano, fui com a Lara (que ia ter uma consulta com o Rui Xavier Vieira) ao Santa Maria, e aproveitei para perguntar por ela se o processo já lá estava. O professor novamente disse que não e perguntou porque razão não me davam o processo em mãos para eu o levar. Aproveitei o facto da Lara se dirigir à secção dos relatórios clínicos para pedir o seu para poder alterar finalmente o nome e género na sua documentação (já tem o processo concluído desde Novembro de 2007, data em que recebeu a autorização da Ordem dos Médicos para as cirurgias) e dirigi-me à secção onde o Santa Maria recebe o correio para ver se tinham registo da chegada dele. mas não, só se tivesse ido registado.

Com tudo isto veio o verão, mais um compasso de espera, pois no verão pára tudo (ou quase tudo). Em Setembro lá fui novamente tentar falar com a Catarina Soares, pois o processo insistia em não aparecer no Santa Maria. E foi quando fiquei a saber uma coisa interessante: das duas primeiras vezes o processo tinha sido enviado e devolvido pelo Santa Maria. As razões ignoro-as mas o não conhecimento de que o Prof Dr Rui Xavier Vieira dava consultas lá não me convence. Falei com a chefe da secretaria que muito simpaticamente me garantiu que o ia enviar uma terceira vez (a da Catarina que era para ter ido registado e com aviso de recepção nunca seguiu) registado e com aviso de recepção, e para eu lá ir na semana seguinte que me fornecia uma cópia do ofício.

Bem, lá fui na semana seguinte, recebi a cópia e dirigi-me ao Santa Maria para ver se já se encontrava lá. E, finalmente, lá estava ele.

Tinha demorado desde 29 de Junho de 2010 a 16 de Setembro de 2011 a ir do Hospital Júlio de Matos ao Hospital de Santa Maria. E a minha vida parada e a ficar cada vez mais velha.

Fim da segunda parte