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quinta-feira, setembro 27, 2012

15 de Setembro: e agora que futuro?

Foi das maiores manifestações pós 25 de Abril, se não a maior. E contráriamente ao que os media se fartam de apregoar, numa tentativa vã de enganar os seus leitores e ouvintes, essa manif NÃO FOI contra a alteração na TSU. Foi CONTRA A AUSTERIDADE que nos está a ser imposta pelos governos liberais de direita que presentemente nos governam. A TSU foi simplesmente a gota de água que, para muita gente, fez transbordar o copo.

Sempre achei muito curiosa esta crise. De repente, as agências de rating iniciaram um ataque à europa comunitária, e ao euro, criando assim uma crise artificial que, curiosamente ou talvez não tanto, levou a um regresso ao poder dos partidos de direita a nível europeu. E digo que talvez não seja assim tão curioso porque não acredito nem por um minuto que alguma destas agências seja pró- esquerda ou mesmo centrista. portanto desconfio, e muito, se não haverá algum plano por detrás de toda esta crise, destinado a diminuir substancialmente ordenados e direitos a trabalhadores.

Ajudados, incompreensívelmente digo eu, pelos partidos de esquerda portugueses, deitaram abaixo o governo socialista para oferecerem de bandeja Portugal à direita. Imagino o quanto o PSD e o CDS/PP não lhes devem ter agradecido, silenciosamente, a iniciativa.

Agora temos um governo, que segundo tudo indica, nada mais é que subserviente à srª Merkel e à direita radical europeia que anda em alta pela Europa fora. A imagem que tenho é a mesma de estereotipos racistas muito comuns há uns 40/50 anos, com Portugal a fazer o papel de africanos que perante uns brancos (neste momento a Troika) só sabiam dizer “sim bwana”.

Quando se esperava, pelo menos por solidariedade nacionalista, que o governo pelo menos tentasse defender os direitos do povo português perante uma Europa que nada mais tem feito que arrasar com Portugal (veja-se a agricultura), deparamos com este servilismo que está a destruir a economia e os direitos sociais que tanto custaram a conquistar.

Toda a gente compreende que existe uma necessidade de contenção de despesas. Ok. Mas o que é demais cheira mal. E atingimos um limite para a austeridade.

E não vale a pena virem os arautos da desgraça pró Troika, como o comentador Camilo Lourenço, que não demonstram nenhuma sensibilidade social e só sabem falar em números. É que Portugal são pessoas, e campos agrícolas e naturais, Portugal não se resume a défices e produções e firmas exportadoras e multinacionais. E não se pode pedir mais trabalho às pessoas ao mesmo tempo que se lhes diminui os ordenados, o direito à saúde, todas as regalias que tornam esta vida mais suportável.

Portugal tem uma força laboral que é (ou era) bem vista por essa Europa fora. Os trabalhadores portugueses sabiam trabalhar e faziam-no bem. E vem este governo e, apesar disto, apesar de já trabalharmos mais horas que a maioria dos restantes países, diz que trabalhamos pouco e aumenta horários de trabalho e corta feriados. Fica a questão de, se apesar de já trabalharmos mais horas que os outros países não nos livrámos da crise, isto implica que o número de horas de trabalho não tem directamente a ver com a crise. Para quê, então, trabalharmos mais?

Os cortes na despesa do estado também são hilariantes. Uma pessoa pensa que vão cortar em coisas como reformas para deputados e governantes e ex-governantes, que são um escândalo e que deviam passar para os 65 anos como toda a gente, diminuir o número de viaturas estatais (não estamos em crise?), restringir o direito a uma única reforma por cabeça, acabarem com determinadas mordomias, normais em outros tempos mas nestes de necessidade, nada normais, como o uso de papel higiénico do mais barato em vez do de marca, e outras medidas deste tipo, que como toda a gente sabe, parece ser pouco mas depois poupa-se muito, até podiam acabar com o senhor que anda o dia inteiro a dar água aos deputados e pô-lo em funções mais produtivas, afinal os deputados ganham o suficiente para poderem comprar por eles umas garrafinhas de água, se o trabalho lhes faz assim tanta sede. Com tanta coisa onde se podia poupar ficam aqui pequenos exemplos.

E que se vê? Aumento de impostos, cortes de subsídios aos reformados (e para que haja justiça tanto cortam aos que ganham 200 euros como aos que ganham 2000), aumentos de ajudas de custo aos deputados e governo, despedimentos facilitados, cortes na saúde, educação e transportes, segurança social, etc.

Ou seja, a crise, pelos vistos, só existe para uns. Aquela conversa de existirem gestores com ordenados tão exageradamente chorudos que nem se podem diminuir senão esses maravilhosos senhores emigram sempre me cheirou muito mal. Ou é crise e então é para todos, governo, deputados, presidência incluídos, ou não é crise.

A saúde, a educação, transportes e segurança social são aqueles básicos que a meu ver não estão vocacionados para darem lucro. São direitos que as pessoas têm, o direito à saúde, o direito à educação e mobilidade, caso contrário a saúde, por exemplo, deixa de ser um direito para ser um bem de consumo (tem saúde quem tem dinheiro). E cortes aqui não são aceitáveis de modo algum. Quem tem dinheiro e possa pagar, deve pagar, mas quem tem uma casa mediana e um carrito sem dinheiro no banco, sem trabalho, sem subsídios, porque tem de pagar? E paga como? Raspa-se a parede um bocado e isso vale quanto?

E tudo isto com a aprovação de uma Europa que se quer solidária? A troika, dizem, está a ajudar, enviando dinheiro. Com aqueles juros? Mas isso é que é ajuda?

Mas o pior é que isto é para ficar assim. Porque para que Portugal consiga manter os níveis que a Europa deseja, vamos ter de ficar com estas medidas, não somente durante o tempo da “ajuda”, mas para o futuro. Ou seja, vamos ficar sem SNS, com uma educação só para ricos, transportes elitistas, sem direitos laborais, até parece um retrocesso aos tempos do Estado Novo.

Não foi esta a Europa que nos venderam. Para estarmos na m**** não precisamos de estar na Europa, isso conseguimos nós sózinhos. Portanto impõe-se a pergunta se esta é a Europa que queremos. Não uma Europa onde nos desenvolvêssemos e vivêssemos melhor, como nos foi vendido na altura, mas uma Europa onde isto nada mais é que uma miragem de países ricos.

Estar numa Europa assim não me interessa. Portanto será altura de se começar a perguntar se não valerá a pena um referendo para uma Europa que só é boa para multinacionais. Eu voto pelo referendo e, a manterem-se estas condições, ou seja, esta Europa, pela saída. Esta Europa não quero. Nem esta austeridade. Nem estas agências de rating. Nem este governo.