O 17 de Maio e as Marchas Pride
Dia Internacional Contra a Homofobia e Transfobia. A data é celebrada a 17 de Maio. Em Coimbra realizou-se uma marcha para celebrar este dia. Em Lisboa haverá um encontro (dia 19) com Carla Antonelli visando o futuro da luta trans, e distribuição de panfletos na gare do oriente.
Não sei se é por ignorância, se julgam que homossexuais e transexuais são a mesma coisa, se pensam que polifobia e homossexualidade são sinónimos, ou se é por discriminação mesmo, mas o Bloco de Esquerda meteu os pés na argola. É que, e apesar da sigla não ter mudado, o IDAHO (International Day Against Homophobia) há poucos anos mudou o nome para International Day Against Homophobia and Transphobia). E é esta dia que se comemora a 17 de Maio. E o cartaz do bloco convoca unicamente para uma marcha contra a homofobia.
E quando penso em transfobia, não posso deixar de referir este exemplo e outros recentes que revelam o quanto ainda falta para existir uma comunidade LGBT em Portugal.
No início de Março, no Chile, Daniel Zamudio era selvaticamente espancado por um grupo de neonazis. Foi posto em coma induzido sensivelmente durante um mês. Mas não resistiu. O seu corpo apresentava queimaduras de cigarro em várias partes, cruzes suásticas gravadas à faca no peito e costas, as duas pernas partidas, uma parte de uma orelha tinha desaparecido.
No facebook multiplicaram-se iniciativas por Daniel. Recentemente foi aprovada no Chile uma lei anti-discriminação, resultado directo da sua morte.
Mais ou menos na mesma altura, Agnes Torres Hernández, mulher transexual mexicana, activista, psicóloga, é encontrada degolada, com o corpo queimado de tentativas de lhe lançarem fogo. Encontrava-se a trabalhar numa lei de identidade de género.
O seu caso passou quase totalmente ignorado no facebook. A sua morte originou uma proposta de lei anti discriminação no estado onde residia. A polícia considerou que não foi crime de ódio, mas simples roubo. O seu namorado, o principal acusado, encontra-se ainda em parte incerta.
Mais recentemente foi aprovada na Argentina uma lei de identidade de género. Sendo a mais avançada lei existente no mundo, a lei providencia que qualquer pessoa possa alterar nome e género na sua documentação sem qualquer exigência legal. Sem relatórios médicos, cirurgias forçadas ou outro impedimento.
Além disto, a lei garante tratamentos e cirurgias para qualquer trans que o deseje pelo serviço nacional de saúde local. Como é por lei, abrange também os serviços de saúde privados.
O alcance desta lei, que vem provar que afinal a despatologização da transexualidade (e transgenderismo) não implica a perda do direito de assistência médica, passou relativamente ignorada, tanto nos meios de comunicação (mais grave no caso do dezanove, por exemplo, que se encontra supostamente vocacionado para temas LGBT), como no facebook. Da parte dos media gerais, nada de espantar, num país em que as pessoas trans ainda são vistas como uma espécie de “freaks” ou doentes mentais, e obviamente que esta lei e o seu alcance não são do agrado dos patologistas e seus capangas.
A declaração de Obama, na mesma semana, apoiando a nível pessoal o casamento gay, ofuscou por completo a aprovação da lei pelo senado argentino (sem votos contra, de notar) e o seu alcance.
E no entanto esta aprovação da lei é, sem sombra de dúvida, o maior feito LGBT desde o início do ano.
Em Abril chegou ao Grupo Transexual Portugal um apelo para que se organizassem acções contra a institucionalização forçada de uma jovem transexual alemã, que as autoridades iam retirar á mãe por esta apoiar a filha transexual.
Nenhuma organização LGBT portuguesa mostrou disponibilidade para acções sobre este caso. Nem o GRIT, que supostamente deveria estar interessado neste caso, pois tratava-se de uma jovem transexual. Houve uma acção no Porto devido unicamente à aderência de dois bravos que não se limitaram a ir com a corrente, e que não posso deixar de mencionar aqui, mereceram esse direito: Green Elf e Filipx Gomes.
Quando se comemora o 17 de Maio, não posso deixar de pensar nestes exemplos que demonstram bem a discriminação que ainda existe em relação ao T de LGBT. Interna e externamente.
E que data é esta? Nada mais nada menos que a data em que, corria o ano de 1990, a assembleia geral da Organização Mundial de Saúde aprovou a eliminação do código 302.0 (homossexualidade) do CID (Classificação Internacional de Doenças). Não será, portanto de estranhar que só recentemente se tenha passado a denominar Dia Internacional Contra a Homofobia e a Transfobia. Ainda não há muitos anos era só o Dia Internacional Contra a Homofobia. E na maioria dos meios de comunicação ainda é assim que é tratado.
IDAHO de sua sigla internacional (International Day Against Homophobia), a comemoração deste dia não consegue fugir à história. Curiosamente este dia existe porque pessoas trans, fartas da discriminação a que se encontravam diariamente submetidas, levantaram-se e iniciaram bem alto os seus gritos de revolta. Bem alto é mais uma forma de expressão. O início foi algo tímido, como o Cooper Donuts Riot em 1959, o Compton’s Cafeteria Riot em 1966 e em Stonewall em 1969.
Sobre os dois primeiros, tirando a informação que já tinha descoberto, pouco ou nada mais apareceu. Sobre Stonewall vão aparecendo mais informações.
Michael Kasino, realizador de um documentário “The saint of Christopher Street”, entrevistou David Carter, autor de Stonewall e na entrevista foi “descoberto” que o início da revolta foi despoletado por Marsha P. Johnson, que ao ser interpelada lançou um grito de “I got my civil rights”, lançando então um copo de “shots” contra um espelho. E foi a partir daqui que a coisa se precipitou.
Marsha P. Johnson, para quem não saiba, foi uma figura transexual bastante conhecida desde os anos 60 aos 90. Conhecida como “The saint of Christopher Street”, foi uma das instigadoras da revolta de Stonewall, modelo de Andy Warhol e uma performer drag queen.
E depois vê-se escrito por personalidades como Leandro Colling, professor do IHAC e do Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade da UFBA , Presidente da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (ABEH), a descreverem Stonewall como, e cito, “uma batalha de três noites, travada por homossexuais, incluindo muitos travestis e prostitutos, contra a polícia no gueto guei de Nova York em junho de 1969.”
Eu diria “uma batalha de três noites, travada por transexuais e transgéneros incluindo muitos homossexuais...”, ficava mais correcto e real. Mas, como nos tratamentos por choques eléctricos “fornecidos” à comunidade transgénero e transpostado para os nossos dias como fornecidos à comunidade homossexual.
Pois é, se uma pessoa não se “põe a pau”, a história descreve factos adulterados e transforma-os em realidade. E o T é, regra geral, obliterado. E o 17 de Maio comemora-se muito graças à comunidade trans. E as marchas Pride existem muito graças à comunidade trans.
Nunca é demais relembrá-lo.
Não sei se é por ignorância, se julgam que homossexuais e transexuais são a mesma coisa, se pensam que polifobia e homossexualidade são sinónimos, ou se é por discriminação mesmo, mas o Bloco de Esquerda meteu os pés na argola. É que, e apesar da sigla não ter mudado, o IDAHO (International Day Against Homophobia) há poucos anos mudou o nome para International Day Against Homophobia and Transphobia). E é esta dia que se comemora a 17 de Maio. E o cartaz do bloco convoca unicamente para uma marcha contra a homofobia.
E quando penso em transfobia, não posso deixar de referir este exemplo e outros recentes que revelam o quanto ainda falta para existir uma comunidade LGBT em Portugal.
No início de Março, no Chile, Daniel Zamudio era selvaticamente espancado por um grupo de neonazis. Foi posto em coma induzido sensivelmente durante um mês. Mas não resistiu. O seu corpo apresentava queimaduras de cigarro em várias partes, cruzes suásticas gravadas à faca no peito e costas, as duas pernas partidas, uma parte de uma orelha tinha desaparecido.
No facebook multiplicaram-se iniciativas por Daniel. Recentemente foi aprovada no Chile uma lei anti-discriminação, resultado directo da sua morte.
Mais ou menos na mesma altura, Agnes Torres Hernández, mulher transexual mexicana, activista, psicóloga, é encontrada degolada, com o corpo queimado de tentativas de lhe lançarem fogo. Encontrava-se a trabalhar numa lei de identidade de género.
O seu caso passou quase totalmente ignorado no facebook. A sua morte originou uma proposta de lei anti discriminação no estado onde residia. A polícia considerou que não foi crime de ódio, mas simples roubo. O seu namorado, o principal acusado, encontra-se ainda em parte incerta.
Mais recentemente foi aprovada na Argentina uma lei de identidade de género. Sendo a mais avançada lei existente no mundo, a lei providencia que qualquer pessoa possa alterar nome e género na sua documentação sem qualquer exigência legal. Sem relatórios médicos, cirurgias forçadas ou outro impedimento.
Além disto, a lei garante tratamentos e cirurgias para qualquer trans que o deseje pelo serviço nacional de saúde local. Como é por lei, abrange também os serviços de saúde privados.
O alcance desta lei, que vem provar que afinal a despatologização da transexualidade (e transgenderismo) não implica a perda do direito de assistência médica, passou relativamente ignorada, tanto nos meios de comunicação (mais grave no caso do dezanove, por exemplo, que se encontra supostamente vocacionado para temas LGBT), como no facebook. Da parte dos media gerais, nada de espantar, num país em que as pessoas trans ainda são vistas como uma espécie de “freaks” ou doentes mentais, e obviamente que esta lei e o seu alcance não são do agrado dos patologistas e seus capangas.
A declaração de Obama, na mesma semana, apoiando a nível pessoal o casamento gay, ofuscou por completo a aprovação da lei pelo senado argentino (sem votos contra, de notar) e o seu alcance.
E no entanto esta aprovação da lei é, sem sombra de dúvida, o maior feito LGBT desde o início do ano.
Em Abril chegou ao Grupo Transexual Portugal um apelo para que se organizassem acções contra a institucionalização forçada de uma jovem transexual alemã, que as autoridades iam retirar á mãe por esta apoiar a filha transexual.
Nenhuma organização LGBT portuguesa mostrou disponibilidade para acções sobre este caso. Nem o GRIT, que supostamente deveria estar interessado neste caso, pois tratava-se de uma jovem transexual. Houve uma acção no Porto devido unicamente à aderência de dois bravos que não se limitaram a ir com a corrente, e que não posso deixar de mencionar aqui, mereceram esse direito: Green Elf e Filipx Gomes.
Quando se comemora o 17 de Maio, não posso deixar de pensar nestes exemplos que demonstram bem a discriminação que ainda existe em relação ao T de LGBT. Interna e externamente.
E que data é esta? Nada mais nada menos que a data em que, corria o ano de 1990, a assembleia geral da Organização Mundial de Saúde aprovou a eliminação do código 302.0 (homossexualidade) do CID (Classificação Internacional de Doenças). Não será, portanto de estranhar que só recentemente se tenha passado a denominar Dia Internacional Contra a Homofobia e a Transfobia. Ainda não há muitos anos era só o Dia Internacional Contra a Homofobia. E na maioria dos meios de comunicação ainda é assim que é tratado.
IDAHO de sua sigla internacional (International Day Against Homophobia), a comemoração deste dia não consegue fugir à história. Curiosamente este dia existe porque pessoas trans, fartas da discriminação a que se encontravam diariamente submetidas, levantaram-se e iniciaram bem alto os seus gritos de revolta. Bem alto é mais uma forma de expressão. O início foi algo tímido, como o Cooper Donuts Riot em 1959, o Compton’s Cafeteria Riot em 1966 e em Stonewall em 1969.
Sobre os dois primeiros, tirando a informação que já tinha descoberto, pouco ou nada mais apareceu. Sobre Stonewall vão aparecendo mais informações.
Michael Kasino, realizador de um documentário “The saint of Christopher Street”, entrevistou David Carter, autor de Stonewall e na entrevista foi “descoberto” que o início da revolta foi despoletado por Marsha P. Johnson, que ao ser interpelada lançou um grito de “I got my civil rights”, lançando então um copo de “shots” contra um espelho. E foi a partir daqui que a coisa se precipitou.
Marsha P. Johnson, para quem não saiba, foi uma figura transexual bastante conhecida desde os anos 60 aos 90. Conhecida como “The saint of Christopher Street”, foi uma das instigadoras da revolta de Stonewall, modelo de Andy Warhol e uma performer drag queen.
E depois vê-se escrito por personalidades como Leandro Colling, professor do IHAC e do Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade da UFBA , Presidente da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (ABEH), a descreverem Stonewall como, e cito, “uma batalha de três noites, travada por homossexuais, incluindo muitos travestis e prostitutos, contra a polícia no gueto guei de Nova York em junho de 1969.”
Eu diria “uma batalha de três noites, travada por transexuais e transgéneros incluindo muitos homossexuais...”, ficava mais correcto e real. Mas, como nos tratamentos por choques eléctricos “fornecidos” à comunidade transgénero e transpostado para os nossos dias como fornecidos à comunidade homossexual.
Pois é, se uma pessoa não se “põe a pau”, a história descreve factos adulterados e transforma-os em realidade. E o T é, regra geral, obliterado. E o 17 de Maio comemora-se muito graças à comunidade trans. E as marchas Pride existem muito graças à comunidade trans.
Nunca é demais relembrá-lo.
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