Transfofa em Blog

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domingo, fevereiro 27, 2011

Faz agora em Fevereiro cinco anos desde que o corpo de Gisberta foi descoberto e três anos que o de Luna o foi.

Gisberta foi torturada durante três dias antes de ser abandonada para morrer num poço de um prédio em obras cheio de água.

Luna foi abatida e o seu corpo largado num contentor metálico de obras como se de lixo se tratasse.

Os assassinos de Gisberta poucos dias depois praticamente auto-acusaram-se. O(s) de Luna nunca foi(ram) descoberto(s).

Ambos os crimes receberam um silêncio bem demonstrativo do incómodo causado por partidos e deputados que primam pelos direitos das minorias, e aqui sim, o caso Gisberta por incluir tortura continuada e por incluir “crianças inocentes como agressoras que afinal eram vítimas” foi bem demonstrativo deste ensurdecedor e incómodo silêncio.

As semelhanças acabam aqui.

No caso de Gisberta, houve um julgamento em que se ouviram frases tão descredibilizantes para a justiça portuguesa como “foi uma brincadeira que correu mal” ou “ela morreu afogada portanto não foram eles que a mataram”.

No caso de Gisberta foi um grupo de rapazes de uma instituição católica que foram os perpretores. Durante três dias espancaram-na, violaram-na com paus e sabe-se lá que mais lhe terão feito que não veio a lume. No último dia, quando já a julgavam morta, tentaram queimar o seu corpo. Não o conseguindo, resolveram atirá-la para o poço onde faleceu.

Gisberta era sem abrigo, toxicodependente, seropositiva mas não morreu por estas causas. Morreu por ser transexual, na palavra de um dos “miúdos” que afirmou que “odiava travestis”.

Luna era trabalhadora sexual. O seu caso caiu no esquecimento, tanto das autoridades como das próprias associações e grupos LGBTTi.

Ambos os casos foram ignorados pelas associações de apoio às vítimas, que nunca se manifestaram, sendo que o de Luna tem sido ignorado também pelos media. Na mesma altura em que foi assassinada, foi-o também um jovem em Oeiras num parque de estacionamento. Há pouco tempo uma televisão nacional fazia uma reportagem sobre este caso. Da Luna nem uma palavra. Afinal não passava de uma trans, “um travesti”, como os media tão alegremente gostam de chamar. E quem é que se preocupa com estes “invertidos”?

Mas o que mais custa é ver-se que as próprias pessoas transexuais discriminam entre estes dois casos. Repare-se, vão ser feitos dois encontros e uma acção, sendo a acção e um encontro no Porto, e outro em Lisboa. Em todos, a divulgação só menciona a Gisberta, como se a Luna não merecesse sequer uma menção, como se Luna não fosse também trans, como se Luna não fosse também uma vítima de um crime violento.

Isto vindo de associações que se dizem de transexuais é grave, é muito grave. Já o é vindo das associações LGBTTI. Já o é vindo dos media. Já o é vindo da polícia, que nunca pareceu muito interessada em desvendar este caso. mas de associações transexuais não se admite, não se pode admitir que façam distinção entre dois casos de duas trans assassinadas. O GRIT e a API devem fazer um mea culpa e assumirem o esquecimento de Luna.

Não será alheia a tudo isto a diferente mediatização entre um e outro caso. Gisberta, em termos mediáticos foi uma celebridade. Pelos piores motivos mas uma celebridade. Luna, por seu lado, foi só a m**** de uma traveca que a quem “limparam o sebo”. Nunca teve o impacto mediático que Gisberta teve. Os media, sempre pródigos na sua recolha de informações, avançaram logo com suspeitas de um crime relacionado com droga. A lógica é simples: traveca=prostituição=droga.

E assim estamos no ponto que eu queria evitar, mas sendo independente não o pude. Estas manifestações de “respeito” pela Gisberta nada mais são que aproveitamentos mediáticos e políticos da sua mediatização. Não tivesse tido Gisberta a mediatização que teve e o seu destino seria o mesmo que o de Luna: o desrespeito e esquecimento.

As pessoas que tanto bradam e tanto bradaram por Gisberta só o fizeram na medida proporcional ao reconhecimento que pode advir daí. Não fosse esse reconhecimento e Gisberta seria nada mais que uma m**** de uma traveca a quem “limparam o sebo”. Mas respeito pela pessoa que foi não o demonstram, caso contrário não falavam somente na Gisberta, incluiriam a Luna.

O facto de unicamente falarem na Gisberta é bem demonstrativo que estas acções nada mais são que um aproveitamento descarado de uma situação de uma pessoa por terceiros para quem os nomes de Gisberta e Luna nada mais significam que tertúlias, debates e comunicados de imprensa. Mas respeito? Não, para haver respeito por Gisberta teria de haver também por Luna. Homenagem? Quem era Gisberta para merecer mais ou menos que Luna? Eram somente duas mulheres transexuais emigrantes brasileiras que foram assassinadas em Portugal.

Como é que ambas as associações/grupos se podem denominar como transexuais quando depois têm atitudes destas? E que dizer das associações/grupos que, ou primam pelo silêncio ou emitem comunicados só para Gisberta?

Dos eventos do Porto soube-se que a acção relembrou unicamente Gisberta. Não fica muito fora de contexto visto o crime ter sido cometido lá. Do debate não se sabe nada, mas posso presumir sem grande risco de estar errada que só foi mencionada Gisberta. Em Lisboa, salvo por uma pequena referência de Fernanda Câncio ao caso de Luna, só deu Gisberta. Mesmo o minuto de silêncio pedido no início foi só para Gisberta.

O argumento de que Gisberta foi um crime comprovadamente de ódio (o mais velho dos criminosos afirmou taxativamente que odiava travestis) e o de Luna não o foi é muito fraco e muito pouco defensável. Porque do crime de Luna pouco se sabe, não se sabe se não foi crime de ódio nem se foi. Portanto pode ter sido.

O que se sabe é que Luna era uma mulher trans, que foi assassinada, que o seu caso foi desprezado pelos media, pela polícia judiciária e pelos vistos está a sê-lo tanto pelas associações e grupos LGBT e pela própria comunidade Transexual.

Um minuto de silêncio em memória destas duas vítimas de seguida peço a quem ler estas palavras.

(...)

Duas vitimas de violência mortal. Dois anos de diferença entre as mortes. Dois tratamentos distintos. Por Luna e por Gisberta, que NENHUMA delas caia no esquecimento.