Entendamos isto, do universo de comunidades que compõem o tão badalado e maltratado T da sigla LGBTI, as únicas comunidades que efectivamente têm uma psiquiatrização obrigatória são as Transexual e Intersexual. Nenhuma das outras o tem. Não se conhece nenhum caso, por exemplo, de nenhum Travesti que para o ser tenha sido forçado a fazer um processo clínico. Tal como nenhum Cross-Dresser, nenhum Andrógino. Cada um é o que é, mas só as pessoas Transexuais e Intersexuais é que são obrigadas a fazerem processo.
E mesmo esta obrigatoriedade é entre aspas. Nada impede que uma pessoa saiba que é Transexual ou Intersexual e faça processo. Fá-lo porque, e isto é importante, qualquer destas pessoas tem uma identidade de género ou masculina ou feminina (sem meios termos) e o corpo do género oposto. Logo, não se sente bem nem confortável com o corpo com que nasceu. Isto vê-se bem nos inúmeros casos documentados de Transexuais/Intersexuais que se auto-mutilaram e que se tentaram suicidar. Portanto logo por aqui se vê que a necessidade de determinadas cirurgias não é um mero fruto estético, e muito menos uma questão de papéis de género.
Continuando, e apesar da Transexualidade estar mais próxima da Intersexualidade, as Panteras continuam a usar a Transexualidade como mote para uma despsiquiatrização forçada das pessoas Transgénero. Ou seja, querem que os Travestis não sejam obrigados a fazerem um processo clínico de Travestismo, que os Cross-Dressers não tenham que fazer um processo clínico de Crossdresserismo e os Andróginos não tenham que fazer bla-bla-bla...
E para isto, nada melhor que forçarem as pessoas Transexuais a afastarem-se das Intersexuais, com as quais têm a maior parte dos problemas em comum, e a juntarem-se às restantes comunidades, tal como o demonstra o comunicado distribuído na acção PANTERAS CONTRA PATOLOGIZAÇÃO DAS IDENTIDADES TRANS, pois começam com “A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a transexualidade e o transgenderismo patologias mentais” e a partir daí acabou-se a Transexualidade para passarem a falar somente de Trans (leia-se Transgéneros).
Ou seja, as lésbicas (L- orientação sexual) têm o direito de o serem, os gays (G- orientação sexual) idem, os bissexuais (B- orientação sexual) idem idem, os Intersexuais (I- identidade de género, com uma componente biológica/física) idem idem idem, mas os Transexuais (T- identidade de género) são englobados nos Transgéneros, em vez de serem uma comunidade autónoma tal como os Intersexuais. Transfobia.
Também no dito comunicado, insistem em comparar a (lol, dizer o k? enfim, vou-me dedicar obviamente à Transexualidade, incluída à força nos Transgéneros) Transexualidade com homossexualidade. Considerando que a esmagadora maioria das pessoas Transexuais são heteros, esta é de gritos.
Ignorando completamente o facto de, diferentemente da homossexualidade, a Transexualidade requerer cirurgias e tratamentos médicos que em Portugal são subsidiados na totalidade ou em parte pelo Estado, querem à força que a Transexualidade seja despatologizada. Em primeiro lugar, essa patologização só existe em termos médicos, e é precisamente o argumento que mais força tem para que nos sejam facultados os ditos tratamentos e cirurgias. Em segundo, nunca conheci nenhuma pessoa Transexual que se considerasse doente/sofrendo de uma patologia. É obvio que a Transexualidade não é nenhuma doença/patologia. Mas a atitude pantérica parece querer ignorar a vida do dia-a-dia, em que são necessários os ditos tratamentos/cirurgias para que possamos viver com um mínimo de qualidade de vida, pondo em risco precisamente o argumento que mais força dá à ajuda estatal, sem apresentarem qualquer alternativa credível, a não ser um “Exigimos que o sistema nacional de saúde apoie os processos de transição tr@ns, pois estes são necessários para o bem-estar bio-psico-social, e este é o conceito actual de saúde da OMS.” dúbio que baste. Transfobia.
Também, claro, escrevem muita coisa certa a nível de reivindicações, embora misturem (convenientemente) necessidades Transexuais com pseudo-necessidades Transgéneros. Por exemplo, a mudança de nome e género na documentação, uma necessidade para Transexuais e Intersexuais, o acesso a tratamentos e cirurgias, também uma necessidade para estas duas comunidades… entre outras.
Ou seja, perdeu-se aqui uma excelente oportunidade para se reivindicar uma Lei de Identidade de Género similar à espanhola, o que, isso sim, iria beneficiar as pessoas Transexuais e Intersexuais, a inclusão no Artigo XIII da Identidade de Género e a sua subsequente criminalização como crime de ódio (Transfobia – aqui já não interessa comparações com homossexualidade)…
Quase que tenho vontade de pegar num mote das Panteras e gritar “Panteras, METAM A TRANSFOBIA NA PIA!
[Portugal] [Opinião]
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